Há 20 anos surgia o primeiro sedã de série com carroceria de
alumínio, que associou um tempero esportivo a seu desenho elegante
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
No Salão de Frankfurt, Alemanha, em setembro de 1993 o estande da Audi literalmente brilhava com um grande carro-conceito com acabamento polido, o ASF ou Aluminum Space Frame. Tratava-se da primeira exibição pública do novo método de construção de carrocerias em alumínio da marca dos quatro anéis, desenvolvido em cooperação com a Alcoa (Aluminum Company of America). Em março do ano seguinte, no evento de Genebra, um carro praticamente igual em aparência — e com a primeira carroceria de alumínio em produção em série — era apresentado como Audi A8.
Destinado a competir com os compatriotas BMW Série 7 e Mercedes-Benz Classe S, os japoneses Infiniti Q45 e Lexus LS 400 e o inglês Jaguar XJ, o A8 tinha sua posição de topo de linha evidenciada pela sigla, com o número mais alto entre os que passavam naquele ano a ser usados na marca (o 80 era substituído pelo A4 e, enquanto se aguardava uma nova geração para 1997, o 100 dava lugar ao A6). O novo carro, com os códigos de projeto Tipo 4D e D2, sucedia ao Audi V8 produzido entre 1988 e 1993. Ambos saíam da fábrica de Neckarsulm, no estado de Baden-Württemberg, no sul da Alemanha, que um dia abrigara a NSU.
Exposto com a carroceria de alumínio polida, sem pintura, o conceito
ASF do Salão de Frankfurt antecipava o estilo e a construção do A8
O estilo do A8 mostrava elegância e sobriedade, com as linhas suaves que tiveram seu auge na década de 1990. A ampla grade, que se erguia junto do capô, dominava a vista frontal e os faróis usavam refletor elipsoidal, um recurso então raro. Os cuidados com a aerodinâmica e a aparência fluida revelavam-se em para-choques, frisos, maçanetas e janelas, que incluíam um pequeno vigia atrás das portas traseiras. As lanternas posteriores horizontais compunham um arranjo com a moldura de placa. Certamente lembrava muito o médio A4, o que se manteria válido nas gerações seguintes.
O A8 empregava alumínio em toda a
carroceria, no que seria por vários anos o único
sedã de série, para redução de peso de 250 kg
Um carro grande para os padrões europeus, o A8 tinha comprimento de 5,03 metros, largura de 1,88 m, altura de 1,44 m e distância entre eixos de 2,88 m — a versão alongada levaria tais medidas a 5,16 m de ponta a ponta e 3,01 m entre eixos. No interior também se percebia a forma sóbria com que os germânicos criam ambientes: revestimentos em couro e painel e portas com apliques de madeira davam o tom sofisticado, mas não havia elementos desnecessários de aparência.
Grandes instrumentos de fácil leitura e o amplo volante de quatro raios eram típicos de um carro alemão. Entre as conveniências havia bancos dianteiros com ajuste elétrico em 14 direções, quatro memórias de posição para o do motorista, volante com regulagem elétrica em altura e distância, sistema de áudio Bose com toca-CDs no porta-malas, telefone celular, telas nas janelas das portas traseiras e acionamento elétrico dos encostos de cabeça traseiros e da tela contra sol do vidro posterior.
O primeiro A8, em 1994: linhas sóbrias e elegantes, tração integral,
motores V6 de 2,8 litros e V8 de 3,7 e 4,2 litros com até 300 cv
O A8 empregava alumínio em toda a carroceria — no que seria por vários anos o único sedã de série — e em componentes como braços de controle da suspensão, pinças de freio, colunas de amortecedores e, naturalmente, as rodas. A redução de peso da ordem de 250 kg beneficiava o desempenho e o consumo. A suspensão combinava o esquema de braços sobrepostos divididos (também de alumínio) na frente e um conceito independente com braço trapezoidal na traseira. A direção Servotronic tinha sua assistência variada de acordo com a velocidade do carro.
De início estavam disponíveis os motores a gasolina V6 de 2,8 litros e duas válvulas por cilindro, com potência de 174 cv e torque de 25,5 m.kgf, V8 de 3,7 litros com duas válvulas, 230 cv e 32,1 m.kgf e V8 de 4,2 litros com quatro válvulas, 300 cv e 40,8 m.kgf. Com o mais potente, o A8 acelerava de 0 a 100 km/h em 7,3 segundos e alcançava velocidade máxima de 250 km/h, limitada pela central eletrônica.
A tração integral permanente Quattro, aplicada de série ao V8 de 4,2 litros, usava diferencial central sensível ao torque (Torsen) para distribuição variável entre os eixos e bloqueio eletrônico dos diferenciais dianteiro e traseiro. A tração básica era apenas na frente. O V6 2,8 adotava cinco válvulas por cilindro — três para admissão e duas para escapamento, uma técnica que abrangeu vários motores do grupo VW — em 1996, passando a 193 cv e 28,5 m.kgf. No ano seguinte estreava uma versão TDI V6 turbodiesel de 2,5 litros, com 150 cv e 31,6 m.kgf, e o câmbio automático passava de quatro para cinco marchas.
Ajuste elétrico de bancos e volante em interior luxuoso, mas sem excessos;
o alumínio poupava 250 kg; o V8 4,2 passava a 40 válvulas em 1999
O A4 chegava apenas em 1997 aos Estados Unidos. Lá, no comparativo da revista Motor Trend ao Jaguar XJR e ao Mercedes-Benz E420 Sport, o 4,2 Quattro demonstrou “luxo tradicional com técnicas de construção de vanguarda”. O comportamento dinâmico foi destaque — “progressivo, previsível, particularmente impressionante no molhado” —, assim como desempenho, conforto interno, itens de segurança, porta-malas e maciez ao rodar. A revista recomendou-o a quem procura “minimizar riscos enquanto maximiza a utilidade, o que inclui a melhor garantia da classe, de três anos ou 50 mil milhas sem custos de manutenção rotineira”.
A Car and Driver comparou o A8 4,2 a BMW 740iL, Jaguar Vanden Plas, Lexus LS 400 e Mercedes-Benz S430 em 1999 e colocou-o em terceiro lugar, destacando “a forte aceleração e o posto esportivo do motorista”, mas com críticas ao rodar firme e ao ruído dos pneus. “O interior fornece excelente ergonomia, a melhor do grupo. O som do motor é imponente e seu empurrão considerável, o bastante para acelerá-lo à frente dos outros; ele é o mais rápido até 96 km/h com 7 segundos”, destacou a revista, que o definiu como “uma máquina musculosa com aderência para ir a qualquer lugar”.
Uma versão esportiva, o S8, aparecia em 1996 seguindo o padrão de denominação já aplicado a S2 (na antiga linha 80), S4 e S6. O motor V8 de 4,2 litros recebeu maior taxa de compressão e comandos de válvulas mais “bravos”, o que o deixou com 340 cv e 42 m.kgf. O resultado era 0-100 km/h em 6,8 segundos, mantendo a velocidade limitada a 250 km/h. Além da altura de rodagem reduzida e de molas e amortecedores mais firmes, o S8 oferecia câmbio manual com seis marchas e o automático Tiptronic de cinco, que permitia mudanças manuais. A tração integral permanente vinha de série.
Rodas de 18 pol, retrovisores polidos e acabamento interno diferenciavam
o S8, um A8 “bravo”, com 340 cv para fazer de 0 a 100 em 6,8 segundos
Por fora, rodas Avus de 18 pol com pneus 245/45 e retrovisores de alumínio polido identificavam o esportivo. No pacote de segurança estavam seis bolsas infláveis (duas frontais e quatro laterais, sendo duas traseiras), faróis com lâmpadas de xenônio e freios com sistemas antitravamento (ABS) e de distribuição eletrônica entre os eixos (EBD), este uma primazia mundial, segundo a Audi.
No modelo 1999 o motor V8 4,2 passava a cinco válvulas por cilindro, o que resultava em 310 cv e 41,8 m.kgf. Também estavam mais potentes o V8 de 3,7 litros (260 cv e 35,7 m.kgf) e o S8 (360 cv e 43,8 m.kgf). Na linha a diesel, o V6 2,5 subia para 180 cv e 37,7 m.kgf e surgia o V8 de 3,35 litros com 225 cv e 48,9 m.kgf, que permitia 0-100 em 8,2 segundos e máxima de 242 km/h. Novos itens de segurança eram bolsas infláveis de cortinas, que abrangiam a área lateral de vidros, e controle eletrônico de estabilidade e tração.
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Para ler
Four Rings: The Audi Story– por Audi, editora Delius Klasing Verlag. Embora livros do próprio fabricante nem sempre contem a história como gostaríamos de ler, essa obra de 368 páginas lançada em 2013 é uma boa fonte para saber mais sobre a marca, desde sua origem em 1899, com mais de 1.000 ilustrações.
Audi Book – por TeNeues, editora TeNeues. Também de 2013, o livro de 304 páginas destaca a trajetória de avanços técnicos da marca, como tração integral, construção em alumínio, os carros de grande-prêmio da Auto Union na década de 1930.
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