Depois de 25 anos, o furgão mineiro enfim muda de geração:
agora é derivado do novo Uno e tem motor Fire Evo de 88 cv
Texto: Fabrício Samahá e Edison Ragassi – Fotos: divulgação
O primeiro Fiat Fiorino — pioneiro entre os furgões derivados de automóveis no Brasil — surgiu em 1980, derivado do 147. Oito anos depois aparecia seu sucessor, com base no primeiro Uno. Dali a 10 anos, qualquer um esperaria uma terceira geração desenvolvida a partir do Palio, assim como a Strada substituíra a picape Fiorino da linha Uno em 1998. Mas o êxito do furgãozinho, líder em sua categoria por 23 anos, levou Betim a estender sua vida útil por um tempo que renderia mais duas gerações.
Na linha 2014, afinal, o Fiorino que conhecemos desde 1988 sai de cena, forçado pela exigência a partir de janeiro de equipamentos de segurança — bolsas infláveis frontais e freios com sistema antitravamento ABS — que, embora pudessem ser adotados, exigiriam investimentos inviáveis em um projeto tão antigo. Sua extinção abre espaço ao terceiro Fiorino, derivado da segunda geração do Uno, lançada em 2010.
Até a metade é um novo Uno; dali para trás, usa a plataforma da Strada, com
eixo traseiro rígido (veja na foto), molas parabólicas e maior entre-eixos
Sim, do Uno outra vez e não do novo Palio, pois não interessa ao fabricante associar um modelo de patamar algo superior ao segmento dos comerciais leves. Além disso, o perfil alto da carroceria do Uno e seu estilo composto por “quadrados arredondados” caíram como luva à concepção do novo furgão. De qualquer forma, é de uma filha do Palio de primeira geração — a Strada — que o Fiorino tomou emprestada a parte traseira da plataforma, com seu eixo rígido e molas parabólicas, mais adequados ao transporte de carga que o eixo de torção com molas helicoidais usado em ambos os hatchbacks.
Ao preço inicial de R$ 38.540 (aumento de R$ 500 sobre o modelo antigo) leva-se um utilitário espartano, dotado apenas de alerta de manutenção programada, assoalho revestido em carpete, bancos revestidos em tecido, console porta-objetos no teto, imobilizador de motor, luz de leitura dianteira, relógio digital, vidros verdes, volante espumado e, como manda a lei, ABS e bolsas infláveis. A parte traseira vem com parede divisória em chapa e as portas traseiras assimétricas não têm vidros.
Os opcionais passam pelos pacotes Celebration, ar-condicionado, direção assistida, computador de bordo, conta-giros, faróis de neblina, porta-luvas iluminado, predisposição para rádio, retrovisores externos com comando interno, controle elétrico dos vidros e travas, volante e banco do motorista com regulagem de altura, espelho no para-sol, pacote Young (calotas e para-choques na cor do carro), vidros nas portas traseiras e na parede divisória, sensores de estacionamento traseiros e rádio com MP3 e entrada USB. Tudo somado, a conta passa de R$ 44.600. Concorrentes diretos, só dois: Peugeot Partner, a R$ 41.690, e Renault Kangoo Express, por R$ 39.130, ambos com motores mais potentes de 1,6 litro e 16 válvulas.
O painel básico (foto menor) é bem simples, mas há muitos opcionais, como vidros
com controle elétrico, ar-condicionado, direção assistida, rádio e conta-giros
Além do desenho bem mais atual por fora e por dentro, o novo Fiorino traz outras evoluções. As dimensões cresceram (20 cm em comprimento, 2,1 cm em largura, 2,7 cm em altura, 14 cm em distância entre eixos) e a capacidade de carga aumentou de 620 para 650 kg — por outro lado, o volume útil do compartimento diminuiu de 3.200 para 3.100 litros, e o do tanque de combustível, de 61 para 58 litros. As rodas passaram de 13 para 14 pol, com pneus 175/70 de baixa resistência ao rolamento, e os freios dianteiros ganharam discos ventilados.
Como veículo de trabalho, ficou bom de dirigir: desenvolve boa velocidade no trânsito e mostra adequada retomada de aceleração
O interior recebeu uma série de opcionais de conveniência, mencionados acima, e mais espaços para objetos. As portas de carga são assimétricas (a esquerda é maior), com abertura de 180°, e podem ser travadas em ângulo de 90° em relação à carroceria. Algo que poderia ser oferecido, como no concorrente da Renault, é uma porta lateral para facilitar o acesso à carga quando estacionado próximo a outros veículos, já que as portas traseiras demandam certo vão livre.
No lugar do motor Fire de 1,25 litro, que produzia potência de 69/71 cv e torque de 11,4/11,6 m.kgf, o novo furgão adota o Fire Evo de 1,4 litro, capaz de 85/88 cv e 12,4/12,5 m.kgf, sempre na ordem gasolina/álcool. Mesmo com aumento de peso de 1.015 para 1.118 kg, o desempenho melhorou: de acordo com o fabricante, acelerar de 0 a 100 km/h agora requer 12,4/11,9 segundos (antes, 14 s) e a velocidade máxima passou de 144/145 km/h para 157/158 km/h. Lamenta-se que a Fiat não mais informe os índices de consumo, nem mesmo pelo padrão do Conpet/Inmetro.
O Fiorino sem opções tem para-choques em preto fosco; o compartimento está
pouco menor, mas as portas podem ser travadas a 90° ou abertas até 180°
A apresentação à imprensa em São Paulo, SP, incluiu uma avaliação bastante breve do Fiorino. Como veículo preparado para trabalho, ficou bom de dirigir. Não chega a ter aceleração forte, pois há um peso considerável para o pequeno motor, mas desenvolve boa velocidade no trânsito e mostra adequada retomada de aceleração. Claro que quando carregado as impressões serão diferentes, tendo sido possível dirigi-lo apenas sem carga.
Esse tipo de furgão costuma ser um pouco instável quando vazio, mas no pequeno trajeto ele se mostrou bem ajustado. A direção (assistida no carro avaliado) é mais pesada do que se espera; já a alavanca de câmbio é macia, bem ajustada, e não oferece resistência ao engatar as marchas. O Fiorino tem ainda um interior confortável, com boa posição de dirigir e comandos bem à mão, e nível de ruído apropriado à categoria. Os retrovisores bem dimensionados oferecem ampla visão, tanto no trânsito como ao realizar manobras de estacionamento. Enfim, um veículo de carga bem parecido com um carro de passeio.
Considerando o êxito do longevo modelo anterior, só se pode prever uma carreira bem-sucedida para o novo Fiorino, pois houve evoluções em diversos aspectos com aumento discreto de preço. Sua maior desvantagem para os oponentes de marcas francesas, o motor com menores potência e torque, pouco representa para um veículo comercial. Em contrapartida, conta com uma rede de concessionárias muito mais ampla e difundida e um histórico de robustez e baixo custo de manutenção — também demonstrado pelo Uno nesses três anos de mercado — que é de grande valia para quem busca um veículo de trabalho.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 2, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 72 x 84 mm |
Cilindrada | 1.368 cm³ |
Taxa de compressão | 12,35:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 85/88 cv a 5.750 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 12,4/12,5 m.kgf a 3.500 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | hidráulica (opcional) |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo rígido, mola parabólica |
Rodas | |
Dimensões | 5,5 x 14 pol |
Pneus | 175/70 R 14 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,384 m |
Largura | 1,643 m |
Altura | 1,90 m |
Entre-eixos | 2,717 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 58 l |
Compartimento de carga | 3.100 l |
Peso em ordem de marcha | 1.118 kg |
Desempenho (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 157/158 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,4/11,9 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |