O Citroën DS ficou conhecido como “sapo” por aqui, e o Monza de 1991 em diante,
como “tubarão”; as portas do Mercedes-Benz 300 SL eram “asas de gaivota”
O apelido também pode se referir a certa semelhança com um animal, caso do Monza “tubarão” (o modelo 1991, com frente comprida e uma grande “boca” para entrada de ar no para-choque), apelido que já havia sido aplicado ao primeiro Chevette, feito de 1973 a 1977. Ou o Ford Fiesta “gatinho” (de 2000 em diante, com faróis que lembram os olhos do felino), o Citroën DS “sapo” (pela forma da carroceria, incomum em 1955) e a VW Variant “cabeça de bagre”, pela frente adotada em 1971.
Casos semelhantes também aconteceram lá fora, com o Alfa Romeo Spider duck-tail ou “rabo de pato” (pelo defletor na tampa do porta-malas), o BMW CS “nariz de tubarão”, o Mercedes-Benz 300 SL gull-wing ou “asas de gaivota” (alusão às portas que se abriam para cima), o Subaru Impreza com “olhos de inseto” (os grandes faróis ovalados adotados em 2000) e, claro, o Cadillac “rabo de peixe”, de 1948 em diante, por suas aletas nos para-lamas traseiros. Em caso parecido com o do Fusca, Topolino — camundongo em italiano e nome do rato Mickey na Itália — surgiu como apelido para o Fiat 500 de 1936 e praticamente se tornou seu nome.
O Mercedes “Pagoda” com teto inspirado em templos asiáticos, o Ford Thunderbird
da fase “bala” e outro Mercedes, o sedã Heckflosse ou Fintail, com barbatanas
Este é ponton, aquele é fintail
Em alguns casos, uma versão ou geração era apelidada pelos conhecedores da marca para facilitar a identificação em meio às várias séries do fabricante. Depois do modelo com “asas de gaivota”, a Mercedes teve um SL chamado de Pagoda por causa do teto com um rebaixo central, que lembrava os tradicionais templos asiáticos. Os sedãs médios dos anos 50 são conhecidos como ponton, uma designação da carroceria de três volumes então incomum, e os da década seguinte, como Heckflosse (em alemão) ou fintail (em inglês) em alusão às “barbatanas” nos para-lamas traseiros.
A picape Chevrolet com entre-eixos 5 cm maior tornou-se famosa como Marta Rocha: por tal medida a mais nos quadris, a Miss Brasil teria perdido o título de Miss Universo
O Ford Thunderbird de primeira geração, leve e harmonioso, era o Little Bird ou passarinho; o retilíneo modelo 1958 tornou-se Squarebird, pássaro quadrado; e a frente bicuda de 1961 rendeu a alcunha de Bullet Bird ou pássaro-bala. O Jeep com maior entre-eixos tornou-se o “Bernardão”, por ser produzido em São Bernardo do Campo, SP. Aumentativo também se aplicou à VW Variant II, ou “Variantão”, embora “Brasilião” tivesse sido mais adequado por sua semelhança de formas com o Brasília.
A picape Chevrolet 3100 de 1956, com distância entre eixos 5 cm maior que a das anteriores, ganhou o apelido de Marta Rocha: diz a lenda que por tal medida a mais nos quadris a Miss Brasil homônima (só que com “h”, Martha) havia perdido nos EUA, em 1954, a chance de obter o título de Miss Universo. E a primeira versão da perua DKW-Vemag, que inaugurou nossa produção de automóveis em 1956, ficou conhecida como “risadinha” pela forma da grade de cinco frisos.
Apelidos nacionais: Marta Rocha para a picape Chevrolet com “duas polegadas
a mais”, Bernardão para o Jeep alongado e Rabo Quente para o Renault 4CV
A ligação com políticos também aparece nos nomes populares. O Mercedes 300 lançado em 1951 é identificado como Adenauer por ter sido o carro oficial do chanceler alemão Konrad Adenauer. No Brasil, Fusca Itamar é como chamamos a reedição feita entre 1993 e 1996 a pedido do então presidente Itamar Franco, um admirador do modelo.
A procedência do automóvel é outra fonte de apelidos. Entre os admiradores do Chevrolet Omega, o modelo importado da Austrália é o “canguru”, animal tão relacionado àquele país. Em 1986 a VW vendeu por aqui alguns Passats de quatro portas, sobras de um contrato de exportação para o Iraque, e o nome daquele país passou a identificar esses carros no mercado. Por outro lado, lá no Oriente Médio esses carros são conhecidos como Brasíli por sua origem.
Formas, cores e odores: o BMW 3.0 CSL ou “Batmóvel”, o Fiat 147 “cachacinha” pelo
pioneirismo no álcool e o Auto Union de corrida dos anos 30 ou “flecha de prata”
Comandos também inspiram denominações. No DKW 1932 a alavanca de câmbio que saía do painel tornou-se “cabo de guarda-chuva”. Pouco depois, no Citroën Traction Avant, a alavanca no centro do painel era apelidada de “rabo de vaca” por seu posicionamento para baixo e à direita. Mais famoso que ambos foi o Ford “de bigode”, como ainda é chamado aqui o Modelo T. A alcunha refere-se às duas manetes na coluna de direção, uma para o avanço de centelha e outra do acelerador manual.
Até as cores podem dar motivos à criatividade popular. Modelos com pintura em dois tons, no passado, eram conhecidos como “saia e blusa”. O Renault 4CV — que aqui foi apelidado de “rabo quente” por ter motor traseiro, antes mesmo do Fusca — era na Europa a “barra de manteiga”, pois a fábrica aproveitou sobras de tinta bege-clara da Segunda Guerra Mundial por algum tempo. O Voyage Los Angeles, série especial de 1984 em um tom chamativo de azul, virou “tampa de panela”.
Teimoso, Caiçara e Pé de Boi podem parecer apelidos, mas eram os nomes oficiais das versões populares, despojadas ao extremo, dos modelos Renault Gordini, DKW Vemaguet e Volkswagen na década de 1960. Assim como Candango era a denominação da fábrica para o jipe DKW, em homenagem aos trabalhadores que construíram Brasília. No caso do Gordini, a “teimosia” teria vindo de um teste no qual o modelo continuou correndo em autódromo mesmo após uma capotagem. E quando a Ford lançou um Galaxie básico, anos depois, viu-o ser chamado de “teimosão” ou “pé de camelo”…
O Cord 810 com “nariz de caixão” e dois exemplos em motos: Honda CB 750
“sete-galo” e Yamaha RD 350 “viúva negra”, apelidos que chegaram às sucessoras
E a lista de apelidos vai longe. O BMW 3.0 CSL dos anos 70, com enormes aerofólios, virou o Batmóvel e os carros da marca em geral são conhecidos como Bimmers pelos admiradores. Nosso Fiat 147, primeiro carro a álcool em produção no mundo, virou “cachacinha”. O norte-americano Cord 810 dos anos 30 tinha o “nariz de caixão” por sua frente lisa, sem grade. Os carros de corrida da Mercedes e da Auto Union na mesma década, prateados e muito velozes, são famosos como “flechas de prata” — Silberpfeile em alemão, Silver Arrow em inglês. O Nissan Skyline de 1989 foi chamado de Godzilla por uma revista, em referência ao monstro japonês do desenho animado, e assim ficou para seus fãs.
Até Fusca é um apelido, derivado da pronúncia alemã de Volks, já que naquele idioma o “v” tem som de “f”. Só que acabou adotado pelo fabricante, tanto no modelo original — de 1983 em diante — quanto em sua nova interpretação.
Também nas motos
A mania de apelidar veículos não deixou de fora as motocicletas. Nos anos 70 havia admiradores de duas principais marcas com seus modelos de alto desempenho: a Honda CB 750, conhecida como “sete galo” (50 é o número do galo no jogo do bicho), e a Yamaha RD 350 ou “viúva negra” (uma aranha muito venenosa) por seu desempenho arisco. Os apelidos voltaram a ser usados na década seguinte, quando as motos ganharam produção brasileira em gerações mais modernas (CBX 750 F no caso da Honda).
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