Três compactos de desenho bastante atual e que conseguem agradar à maioria; a
frente refeita deixa o Fiesta com tanto jeito de novidade quanto os adversários
Concepção e estilo
O nome mais longevo no grupo é sem dúvida o Fiesta, cuja primeira geração foi lançada na Europa em 1976. Ele chegou ao Brasil em 1994 como importado, na terceira geração, e tornou-se brasileiro dois anos depois. A quarta série vinha em 2002, mas a quinta (sexta no entender de alguns, pois houve ampla reforma em 1995), apresentada no Velho Mundo em 2008, demorou a ganhar produção local, sendo trazida do México desde 2011. Agora, reestilizada, torna-se nacional.
O C3 foi lançado em 2001 na França, como sucessor de um modelo que poucos de nós conhecem — o Saxo —, e aqui após dois anos; a segunda geração surgiu lá em 2009 e levou três anos para chegar ao Brasil. O 208, por sua vez, apareceu aos europeus em 2011 como sucessor do 207, modelo apresentado lá em 2007 e que não chegamos a ter (o nacional de mesma designação é outro carro); a linhagem iniciada na década de 1980 inclui os antecessores 205 e 206. Embora compartilhem a plataforma e a mecânica, C3 e 208 adotam estilos bem diferentes, dentro da estratégia habitual do grupo.
São três modelos com desenho moderno, em que o Fiesta, embora alguns anos mais antigo que os outros, está plenamente dentro do contexto e ganhou ar mais atual com a reformulação da frente. Ele e — em especial — o 208 são mais ousados nos detalhes, enquanto o C3 apela para formas mais convencionais. Cada um a seu modo, todos conseguem agradar à maioria e podem ser considerados bem desenhados (leia as análises de estilo do Citroën, do Ford e do Peugeot).
Diferentes soluções de estilo, com bom resultado em qualquer caso; entre o C3 e o 208
há clara diferenciação visual, apesar de compartilharem plataforma e mecânica
Os três são exemplos de bom coeficiente aerodinâmico (Cx), dentro das limitações de seu porte (carros curtos costumam ter Cx mais alto), e o melhor nesse aspecto é o C3, com 0,31, ante 0,32 do 208 e 0,33 do Fiesta. Contudo, em área frontal estimada a ordem se inverte (menor no 208, maior no C3) e, quando ela é considerada, os carros das marcas francesas acabam equivalentes e pouco à frente do rival: 0,742 para o Peugeot, 0,747 para o Citroën e 0,759 para o Ford.
No 208, a forma de ler os mostradores a que nos acostumamos por décadas dá lugar à solução de vê-los por cima do volante, que é bem menor
Conforto e conveniência
Em suas gerações anteriores (o 207 nacional no caso do Peugeot) o C3 era o mais ousado por dentro, com painel de instrumentos digitais e formas criativas em vários elementos, enquanto os outros dois seguiam o trivial. Agora o quadro é outro: enquanto a Citroën foi conservadora, a Ford ousou um pouco — caso da seção central do painel com o aparelho de áudio — e a Peugeot foi decidida adiante.
No 208, a forma de ler os mostradores a que nos acostumamos por décadas, por dentro do aro do volante, dá lugar à solução de vê-los por cima da direção, logo abaixo do para-brisa. Por conta disso o volante é bem menor: algo ovalado, mede de 33 a 35 cm de diâmetro, contra a faixa usual de 36 a 38 cm. Pode causar alguma estranheza inicial, mas após breve adaptação se percebe que funciona muito bem: desvia-se menos o olhar da via para ler os instrumentos e o volante pequeno torna o dirigir muito agradável, além de facilitar a entrada e a saída do motorista (nesse aspecto a base chata usada pelo C3 contribui, ao menos com direção alinhada para frente).
O C3 tem o interior menos ousado, mas com tudo em forma e local apropriados;
o motorista acomoda-se bem e, como nos outros, o espaço traseiro é modesto
Falando dos mostradores em si, o 208 tem a vantagem de trazer um repetidor digital para o velocímetro, sempre útil nesses tempos de fiscalização incansável de velocidade — e bem-vindo diante da grafia muito congestionada do instrumento analógico, que não facilita a leitura. Também a favor dele está o computador de bordo mais completo, com informação de consumo instantâneo e duas medições para consumo e velocidade médios (nos concorrentes há uma só). Ford e Peugeot têm marcador de temperatura do motor, como muitos preferem; no C3 existem luzes indicadoras de motor frio e superaquecimento. Em todos a iluminação é permanente e na cor branca.
Outro ponto positivo do Peugeot é a escolha dos materiais plásticos: embora rígidos como os dos concorrentes, conseguem melhor aspecto com a textura lisa em várias seções. Os do C3 ficam em posição intermediária, com aparência razoável. Já o Fiesta brasileiro perdeu a cobertura emborrachada do painel da versão mexicana, em favor de um plástico duro que já estava cheio de riscos no carro avaliado, e manteve os painéis de porta em material áspero e muito simples para um carro de seu preço. No revestimento dos bancos, o Citroën combina couro (nas laterais) e um tecido de trama (centro) com bom gosto, enquanto Ford e Peugeot usam tecidos ásperos, com aparência mais criativa e refinada no segundo.
Os três carros oferecem ao motorista boa posição para dirigir, com banco bem conformado, dotado de regulagem em altura, assim como o volante de três raios, que ainda pode ser ajustado em distância. Os pedais estão bem posicionados e há apoio adequado para o pé esquerdo; já os apoios laterais mais pronunciados dos bancos do C3 e do 208 seguram melhor o corpo em curvas velozes. Todos usam reclinação do encosto por alavanca, em pontos definidos, e as de C3 e Fiesta ficam apertadas junto à coluna central. No Citroën a solução do painel recuado à frente do passageiro traz agradável sensação de espaço.
O 208 foi criativo no painel elevado, lido por cima do pequeno volante, e tem os
melhores materiais de acabamento e a única tela sensível ao toque no grupo
O 208 vem com ampla área envidraçada no teto, que é fixa. Não proporciona a ventilação de um teto solar, mas é bastante agradável quando se quer ver o céu, iluminar o interior ou curtir o sol em uma manhã de inverno — e, por ter forro de vedação completa que pode ser parado em qualquer posição, não incomoda quando se prefere deixar o sol de fora.
No C3 o arranjo é outro: um para-brisa estendido em cerca de 30%, de forma contínua, com vidro escurecido na parte traseira e um anteparo que permite retomar o tamanho normal caso se prefira. Embora ofereça as mesmas possibilidades do teto do 208, só que restritas a quem está nos bancos dianteiros, traz alguns inconvenientes: os para-sóis são fixos (não articuláveis para o lado, um problema quando o sol vem pela lateral), não têm espelho de cortesia e, quando são usados, resta um grande vão central sem proteção contra o sol frontal. Por que não ampliar a faixa escura?
Ainda no Peugeot, sobressai a ampla tela central de sete polegadas que serve aos sistemas de áudio, telefonia via interface Bluetooth e navegação. As funções são acionadas por toques na tela e o sistema baseia-se em menus fáceis de usar, embora possam demandar algum tempo de aprendizado. Há boas ideias como exibir a capa dos demais álbuns de músicas (desde que o arquivo JPG esteja incluído) ao lado daquele em reprodução, para fácil seleção. O C3 também pode vir com navegador em tela de 7 pol (ausente do avaliado), mas ela fica distante e seus comandos se dão pelo botão central do rádio, nada práticos quando se trata de inserir um endereço de destino.
O interior do Fiesta nacional mostra ganhos e perdas em relação ao do antigo
mexicano; o sistema de interação Sync tem facilidade de uso questionável
Exclusivo do Fiesta é o comando de áudio, telefone e ar-condicionado por mensagens de voz (sistema Sync), mas questionamos sua facilidade de uso: faltam botões para operações triviais como passar à pasta seguinte de arquivos MP3, que exigem o uso do comando de voz e se tornam, até que se crie o hábito, enigmáticas. Além disso, várias vezes o pendrive inserido “desapareceu” após nova ligação do aparelho, sendo necessário recolocá-lo ou usar o comando de voz, já que não existe um botão para escolher esse dispositivo (ao usar AUX o aparelho procurava algo conectado à porta auxiliar ou via Bluetooth, o que não havia).
Os três sistemas de áudio são regulares em qualidade e têm conexões diversas — auxiliar, USB e Bluetooth —, além de comandos no volante ou junto dele. O do 208 deixa de fora o tradicional toca-CDs, o que pode fazer falta para alguns usuários. Todos os carros vêm com ar-condicionado com controle automático, só o do 208 com ajuste de temperatura separado para direita e esquerda (duas zonas); ele e o C3 estendem o ar frio ao porta-luvas, mas nenhum tem difusor de ar para o banco traseiro.
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