A frente renovada fez bem ao estilo do Sandero, que mantém adeptos apesar da
idade do projeto; defletor traseiro é um dos itens do pacote visual do GT Line
Concepção e estilo
O Etios hatch nasceu em 2011 na Índia, com o nome Etios Liva, derivado do sedã lançado lá no ano anterior, e em 2012 passou a ser fabricado na unidade construída para ele em Sorocaba, no interior paulista. O Sandero é mais antigo: apareceu aqui em 2007 como um desenho local a partir da plataforma e da estrutura do Logan, que havia sido apresentado em 2004 pela marca romena Dacia, braço de modelos de baixo custo do grupo Renault. Em 2011 foi adotada uma reforma visual na parte dianteira que a Europa não chegou a seguir, pois faltava apenas um ano para surgir sua segunda geração, com carroceria toda nova e a mesma estrutura.
Os dois modelos têm desenhos simples, focados no baixo custo de produção, o que tem como exemplo os vidros com pouca curvatura. Alguns itens do Etios causam estranheza, como a grade em curva e as lanternas traseiras salientes da carroceria, e o conjunto tem toda a aparência da década de 1990. O Sandero, embora longe de ser inspirado, consegue passar uma impressão mais atual com as formas retilíneas e que buscam robustez, além de ter sido atualizado com a nova frente — pena ter mantido as lanternas traseiras algo estranhas, mas a que a maioria parece já se ter habituado.
O Etios está longe de impressionar pelo desenho, que lembra carros dos anos
90; as lanternas salientes são estranhas e o defletor pretende esportividade
Apesar do aspecto antigo, o Toyota é mais eficiente em termos de aerodinâmica, com Cx declarado de 0,33 e menor área frontal. Embora a Renault não informe o coeficiente de seu carro, o do Logan (0,36) parece uma boa referência, já que os modelos são parecidos em formato até a cabine. Com esse Cx e uma área frontal estimada pouco maior, o Sandero chega ao índice final de 0,89, ante 0,78 do Etios.
O Etios tem o quadro de instrumentos em posição central, uma tradição nos carros pequenos da marca; a leitura dos mostradores é adequada, mas não a do hodômetro
Conforto e conveniência
Quem compra um carro dessa faixa de preço, no Brasil de hoje, sabe o que vai encontrar em termos de acabamento: materiais simples, plásticos rígidos, tecidos ásperos e pouco cuidado com os detalhes internos. Isso posto, até que o Sandero convence mais depois da reforma interna apresentada em 2011, quando a aparência melhorou em relação à dos modelos iniciais. O GT Line traz a seção central do painel em preto brilhante, de bom aspecto, e itens esportivos como logotipos nos encostos dianteiros e a cor vermelha nos cintos de segurança e nas costuras de bancos — que, no entanto, evidenciam nesse tom o fato de serem desalinhadas entre si.
O Etios tem o quadro de instrumentos em posição central, uma tradição nos carros pequenos da marca que divide opiniões. Não se trata de redução de custos em relação ao original indiano (lá o volante fica no lado direito), pois os mostradores são invertidos aqui e ficam um pouco voltados ao motorista. Se o vazio dentro do volante sempre parece estranho aos não acostumados, a leitura de velocímetro e conta-giros é facilitada por seu grande tamanho e pela proximidade ao para-brisa. Ruim mesmo é ler o hodômetro, conjugado ao marcador de combustível em uma diminuta tela de cristal líquido.
Embora simples, o interior do Sandero agrada mais pela aparência; há espaço
razoável para três no banco traseiro e o do motorista tem ajuste de altura
No Sandero os instrumentos são convencionais em forma e posição e fáceis de ler, além de trazerem computador de bordo e marcador de temperatura do motor a mais que os do Etios. O conta-giros vem destacado em tom claro (que escurece sob baixa luz ambiente), a exemplo dos usados em modelos da Renault Sport na Europa. Estranha é a faixa vermelha a partir de 5.500 rpm, quase de motor a diesel, sendo que o corte só vem a 6.100 rpm.
O motorista de ambos dispõe de um bom banco, de dimensões acima da média da classe, mas só o do Renault traz regulagem de altura, um ajuste que apenas o Toyota oferece para o volante. Volante este que — a exemplo do Corolla de outros tempos — fica mais distante do motorista do que o ideal, fazendo supor que os chimpanzés ainda trabalhem no departamento que define a ergonomia dos carros da marca japonesa… Ainda no Etios, o escasso apoio lombar faz as costas se cansarem com rapidez. Em nenhum deles o pé esquerdo tem bom espaço ao lado da embreagem.
Que são carros simples já se sabe, mas o Toyota vai longe demais em alguns aspectos. Os faróis permanecem acesos ao desligar a ignição e não há aviso sonoro, um risco para a carga da bateria; a ancoragem superior dos cintos dianteiros não é ajustável; as portas parecem ocas pelos ruídos que fazem ao fechar e ao soltar a maçaneta; parte interna do capô e cofre do motor não são pintados, vindo em fundo cinza mesmo no carro azul; a cobertura do porta-malas é sustentada por uma só corda; a falta de tampa no espelho do para-sol do motorista (presente no Sandero) pode causar incômodos reflexos quando o anteparo é usado; e não há controle remoto do travamento das portas, luzes de leitura (o Renault tem uma) ou temporizador da luz interna.
Espartano em excesso no acabamento, o Etios tem soluções estranhas como o
painel central e os difusores deslocados; o espaço é inferior ao do oponente
A favor do Sandero estão ainda o destravamento da porta do motorista em separado das demais, comando central para travá-las, volante revestido em couro, comutador de farol só de puxar (puxar/empurrar no concorrente) e bolsas nos encostos dos bancos dianteiros. Mas os puxadores das portas traseiras são muito pequenos e, como os comandos de ventilação estão virados para baixo, é difícil ver como estão ajustados.
Diante de sua proposta espartana, o Etios chega a surpreender com comodidades como extensão do ar-condicionado para o porta-luvas (foi fácil fazer: bastou criar uma janela para o difusor de ar, que passa ao lado) e controle elétrico de vidros também na traseira (função um-toque e temporizador estão ausentes dos dois carros). Ele detecta até se o banco do passageiro da frente está ocupado para emitir o aviso correspondente para usar cinto, o que o Renault não tem nem para o motorista. Há ainda aviso para portas mal fechadas e comandos internos para as tampas do porta-malas e do tanque de combustível, como no adversário.
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