Os motores são próximos em potência e torque, mas o câmbio de dupla embreagem
e seis marchas favorece o EcoSport, seja em desempenho, seja em consumo
Mecânica, comportamento e segurança
Os motores de 2,0 litros e quatro válvulas por cilindro são de geração algo antiga nas marcas, com vantagem ao do EcoSport no material do bloco (leia mais sobre técnica). Em potência o Ford está um pouco à frente, com 140/146 cv ante 138/142 cv do Renault, mas este oferece mais torque (19,7/20,9 m.kgf contra 18,9/19,7 m.kgf, sempre na ordem gasolina/álcool) e em regime mais baixo. Ambos são apenas regulares em termos de nível de ruídos e vibrações, com certa aspereza em altas rotações — a Renault faria bem em adotar o motor usado no Fluence, bem superior nesse aspecto.
Com pesos semelhantes, os dois carros desenvolvem de maneira parecida, algo modestos em baixos regimes e mais espertos na faixa superior de giros. O que beneficia muito o EcoSport é o câmbio com duas marchas adicionais e funcionamento mais eficiente, com trocas bastante rápidas, inerentes ao sistema de dupla embreagem. Somado a outras vantagens, como a melhor aerodinâmica, esse fator garantiu-lhe a vitória em todos os itens da simulação do Best Cars, tanto em desempenho quanto em consumo. Veja os números e a análise detalhada.
A caixa Powershift da Ford representa avanço expressivo sobre qualquer outra automatizada de carros nacionais. A sensação ao dirigir é semelhante à de uma automática de moderna geração, com mudanças tão breves e suaves que mal são percebidas, trazendo grande conforto — e eficiência, pois não existe o conversor de torque que consome energia. A do Renault fica bem para trás: embora funcione a contento, deixa um grande intervalo entre as relações das marchas, bem notado quando se reduz de quarta para terceira em rodovia para ganhar potência. Um ponto positivo é que tal redução não acontece à toa pelo uso do curso de acelerador, o que favorece o consumo, dentro do método carga de condução.
Com câmbio automático tradicional de apenas quatro marchas, o Duster fica em
desvantagem; o motor é herdado do Mégane e não o mais moderno do Fluence
O câmbio do Duster permite operação manual ao colocar a alavanca em um canal à esquerda, com trocas ascendentes para frente e reduções para trás. No EcoSport as mudanças manuais são feitas por um botão no pomo da alavanca, o que muitos criticam, mas traz uma vantagem: podem ser comandadas mesmo com a alavanca em posição D. Ao se preparar para uma ultrapassagem, por exemplo, o motorista pode antecipar a redução (antes de acelerar a fundo) e depois esquecer o assunto, retomando as trocas automáticas — se o fizer no Renault, ficará em modo manual.
A caixa Powershift da Ford traz sensação ao dirigir semelhante à de uma automática de moderna geração, com grande conforto — e eficiência
O Ford cativa também pela calibração eletrônica muito bem feita. Ao se levar o acelerador ao fim de curso, a caixa tanto pode efetuar a redução de várias marchas — ao se pisar rápido — quanto se manter em sexta caso o movimento do pedal seja lento, gradual, de modo a rodar em baixa rotação com acelerador bem aberto. No Renault basta pisar até o fim para a redução vir imediata, a menos que se passe ao canal manual (neste, só reduz se for acionado o interruptor de fim de curso). No limite de giros as duas caixas fazem a troca para cima, mesmo em modo manual.
Os dois carros usam os mesmos esquemas de suspensão, com resultados semelhantes. Bem calibrados, produzem um rodar firme, controlado, que permite boa estabilidade apesar da grande altura do solo desses modelos (vão livre de 21 cm no Renault e 20 cm no Ford); a presença de controle eletrônico no Ford é uma vantagem importante. Os pneus escolhidos — Pirelli Scorpion ATR no EcoSport, Bridgestone Dueler H/T no Duster — preveem certa aptidão para uso em terra, mas modelos mais voltados ao uso em asfalto nos pareceriam mais apropriados a essas versões. Vantagem do Ford é o conforto de marcha, sobretudo pela absorção de impactos, que deveria ser aprimorada no Renault. Lombadas são superadas com facilidade por ambos.
Os dois obtêm bom compromisso entre comportamento dinâmico e robustez, mas o
Ford é mais macio em irregularidades; só no Renault os faróis têm duplo refletor
A direção com assistência elétrica do EcoSport agrada pela leveza em baixa velocidade, sem deixar de ganhar peso adequado quando se anda mais rápido — o sistema hidráulico do Duster cumpre seu papel, mas se mostra um tanto pesado para os dias atuais. Os freios estão bem dimensionados e contam de série com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica entre os eixos (EBD), aos quais o Duster acrescenta a assistência adicional em frenagens de emergência.
A Ford foi econômica nos faróis do novo EcoSport, que mantêm o refletor único por lado, em vez do duplo que equipa o Duster. Ambos vêm com faróis de neblina e repetidores laterais de luzes de direção, mas falta ao Renault a luz traseira para nevoeiro e nenhum traz ajuste elétrico do facho dos faróis. Excelentes no Eco são os retrovisores externos grandes e biconvexos (são convexos no adversário); em contrapartida, suas colunas dianteiras largas e avançadas e a menor área de vidros prejudicam a visibilidade geral.
Considerando-se as unidades avaliadas, o Titanium é bem superior ao Tech Road em conteúdo de segurança passiva, ao trazer bolsas infláveis laterais dianteiras para o tórax e cortinas para a área envidraçada das portas (opcionais), enquanto o concorrente tem apenas bolsas frontais. Outras vantagens são cinto de três pontos e encosto de cabeça também para o passageiro central do banco traseiro e, no mesmo banco, fixações para cadeiras infantis pelo padrão Isofix.
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