Há soluções bem-feitas e outras nem tanto no novo hatch, que passou a usar álcool na terceira semana de teste
Texto e fotos: Felipe Hoffmann
O Toyota Yaris XL Plus Tech trocou de combustível para a terceira semana do teste Um Mês ao Volante, passando de gasolina para álcool. Dessa vez o uso foi quase todo urbano, apenas com curto trecho de rodovia até Cotia, SP, por dois dias — o que mal se pode considerar rodoviário. No total foram 422 quilômetros com média geral de 8,8 km/l. A melhor marca foi registrada numa das idas e voltas a Cotia: 9,9 km/l em 38,4 km com média de velocidade de 40 km/h. A pior marca foi de 8,4 km/l em 62 km com média de 26 km/h.
Embora seja cedo para comparar os consumos entre álcool e gasolina, parece-nos que o Yaris prefere álcool quando a questão é eficiência, tanto para potência (ganha 7 cv, assim como 0,5 m.kgf em torque) como para consumo, em razão da alta taxa de compressão (13:1). Um ponto que tem incomodado é a indicação de reserva e baixa autonomia (perto de 50 km) quando ainda há bom volume no tanque. Sempre que abastecemos logo após a luz de reserva aparecer, entram apenas 34 litros até a parada automática da bomba, ante a capacidade divulgada de 45 litros. Houve a situação de a luz de reserva acender, a autonomia zerar e ainda rodarmos mais 55 km no uso-padrão de trânsito. Mesmo assim, ao abastecer entraram 42 litros, ou seja, restavam três.
Chave presencial e luz de cortesia também no centro são convenientes, mas a amarração de cadeira infantil atrás do porta-malas pode atrapalhar a bagagem
Isso mostra um indicador de nível de combustível conservador, para evitar o risco de rodar até parar. Talvez seja uma estratégia para que o motorista não ande com o tanque perto do vazio, o que prejudica a bomba de combustível: o que refrigera o motor elétrico da bomba é o próprio combustível, que em caso de nível baixo não é captado em ruas íngremes ou mesmo curvas. O motor não falha por haver uma espécie de reservatório que sempre fica cheio, mas a captação pode ficar sem seu refrigerante. Vale notar que o alerta precoce de combustível na reserva tem o efeito negativo da sensação de maior consumo, pois obriga o motorista a parar no posto com mais frequência.
O convívio com o Yaris tem revelado bons e maus detalhes. Adoramos, por mais que pareça bobagem, ter a luz de cortesia na parte frontal e outra na parte central da cabine — muitos carros compactos trazem luz apenas frontal, o que faz a manobra de procurar qualquer coisa no banco traseiro um exercício de tato. Para instalar cadeira infantil, o Yaris possui um ponto peculiar de fixação superior Isofix na parte de trás do porta-malas — fixo à longarina traseira, abaixo da quinta porta —, o que obriga que a cinta cruze todo o compartimento. Isso reduz sua altura útil no caso de se colocar uma mala grande. Não há fixação superior central da cadeira, como tem sido frequente.
Algo que incomoda é o tapete solto para cobrir o assoalho do porta-malas, com tampa em material tipo compensado de madeira. Ao colocarmos ali a bicicleta suja de barro, tal tapete se dobrou com o movimento da bicicleta, espalhando sujeira para baixo do tapete — exigiu limpeza da caixa de estepe, onde seria apenas do tapete. A tampa que cobre o porta-malas, por ser mais larga que a distância entre os vãos acima dela, acaba riscando a forração, mesmo com cuidado.
Ressalvas no interior: central de áudio com espelhamento limitado de celular, retrovisor que nem sempre reage aos faróis, tampa do assoalho com tapete solto e cobertura do porta-malas que risca as laterais superiores ao ser retirada
Economias como essa destoam do preço (quase R$ 72 mil) e outros recursos encontrados no Yaris XL Plus Tech, como chave presencial, controlador de velocidade, retrovisor interno fotocrômico e faróis com acendimento automático e regulagem de altura do facho. O retrovisor fotocrômico não se mostra muito eficiente (a exemplo do Corolla da mesma marca): nem sempre escurece como deveria ao se receber um farol alto ou desregulado por trás. Como não existe o modo noturno, acionado por uma lingueta nos retrovisores comuns, os mais sensíveis a luzes fortes acabam não vendo utilidade nesse recurso.
Falta câmera de manobras ou sensores de estacionamento: com coluna traseira espessa e vidro pequeno, o Yaris obriga a estacionar usando apenas os retrovisores
O controlador de velocidade usa o mesmo comando dos Toyotas desde os anos 90, o que pode levar a críticas. Contudo, sendo prática e intuitiva de usar, a alavanca por trás do volante faz pensar: para que mudar se já está bom? O controle e a lógica por trás do controlador também são corretos: não deixam a velocidade cair muito para depois “disparar” e, nas saídas de pedágio, garantem aceleração gradual. A regulagem de altura do facho dos faróis é que não se mostra tão útil num carro pequeno, com curso de suspensão relativamente curto e entre-eixos um pouco longo: a combinação resulta em pouca variação de inclinação da carroceria, mesmo porque não há um enorme porta-malas atrás do eixo traseiro, que faria essa suspensão afundar e erguer muito o facho dos faróis.
Enquanto isso, faz falta uma câmera traseira de manobras ou, ao menos, sensores de estacionamento. O Yaris segue a tendência de estilo dos hatches atuais, com coluna traseira espessa e vidro pequeno, o que obriga o motorista a estacionar usando apenas os retrovisores. É interessante que fizemos baliza por tantos anos sem tais auxílios, mas hoje qualquer carro vem com um deles — se não com ambos — e a câmera é frequente nas centrais de áudio do mercado paralelo, o que chama atenção para sua falta.
O Yaris de 1,35 litro parece ter melhor eficiência com álcool, além de ganhar 7 cv; na próxima semana veremos seu desempenho com medições e análises
Se o objetivo era conter o preço final (pois esta é a segunda de quatro versões na ordem ascendente de preços), a Toyota poderia deixar de oferecer o retrovisor fotocrômico e o ajuste de altura de faróis em favor da câmera traseira. É fato que uma central de áudio paralela resolveria a questão de manobras, além de ter um sistema que faria melhor pareamento com o celular do que faz a central original, mas o fabricante já cobrou caro por um aparelho que não atende por completo.
O Yaris roda agora em sua última semana, que incluirá a gravação da análise técnica em oficina e medições com o instrumento de aquisição de dados Race Capture Pro. Na terça, os resultados.
Semana anterior
Terceira semana
Distância percorrida | 423 km |
Distância em cidade | 423 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 8,8 km/l |
Consumo médio em cidade | 8,8 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 9,9 km/l |
Pior média | 8,4 km/l |
Dados do computador de bordo com álcool |
Desde o início
Distância percorrida | 1.249 km |
Distância em cidade | 1.094 km |
Distância em rodovia | 155 km |
Consumo médio geral | 12,2 km/l (gas.) / 8,8 km/l (álc.) |
Consumo médio em cidade | 11,7 km/l (gas.) / 8,8 km/l (álc.) |
Consumo médio em rodovia | 14,6 km/l (gas.) |
Melhor média | 15,2 km/l (gas.) / 9,9 km/l (álc.) |
Pior média | 7,6 km/l (gas.) / 8,4 km/l (álc.) |
Dados do computador de bordo |
Preços
Sem opcionais | R$ 71.790 |
Como avaliado | R$ 71.790 |
Completo | R$ 73.590 |
Preços sugeridos em 15/4/19 em São Paulo, SP |
Equipamentos
• Yaris XL Plus Tech – Alarme volumétrico, ar-condicionado automático, banco traseiro com encosto bipartido 60:40, central de áudio Toyota Play+/Harman com tela de 7 pol e espelhamento SDL9 para celular, chave presencial para acesso e partida, computador de bordo, controlador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis automáticos com ajuste de altura, faróis e luz traseira de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, retrovisor interno fotocrômico, retrovisores com ajuste elétrico e luzes de direção, rodas de alumínio de 15 pol, volante ajustável em altura.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 72,5 x 80,5 mm |
Cilindrada | 1.329 cm³ |
Taxa de compressão | 13,0:0 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 94/101 cv a 5.600 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 12,5/12,9 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática de variação contínua, simulação de 7 marchas |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 15 pol |
Pneus | 185/60 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,145 m |
Largura | 1,73 m |
Altura | 1,49 m |
Entre-eixos | 2,55 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 45 l |
Compartimento de bagagem | 310 l |
Peso em ordem de marcha | 1.110 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | ND |
Aceleração de 0 a 100 km/h | ND |
Consumo em cidade | 13,1/9,0 km/l |
Consumo em rodovia | 14,2/9,9 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |