Apesar da aparência mais urbana e esportiva, a nova geração
tem mais rodar de utilitário esporte que as anteriores
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Certos carros são como crianças: você fica alguns anos sem vê-los e, quando os reencontra, estão bem diferentes — cresceram, engordaram ou emagreceram, aprenderam coisas novas ou deixaram de fazer o que costumavam. É assim com o Toyota RAV4, um dos primeiros utilitários esporte com plataforma de automóvel, que o Best Cars avaliou nas três gerações anteriores (veja matérias da primeira, da segunda e da terceira) e agora reencontrou na quarta edição, apresentada em maio ao mercado brasileiro.
Estão disponíveis três versões: com tração dianteira e motor de 2,0 litros, ao preço sugerido de R$ 96.900; com tração integral (4WD) e o mesmo motor, por R$ 109.900; e com tração integral e motor de 2,5 litros, por R$ 119.900. As duas primeiras usam inédito câmbio de variação contínua (CVT), enquanto a última vem com caixa automática de seis marchas; a garantia é de três anos. Avaliamos na subseção Dia a Dia a primeira delas, que corresponde à versão dirigida no ano passado.
Um desenho ousado marca a quarta geração do RAV4, com frente similar à do Auris
europeu e faróis elipsoidais, mas na traseira estranha-se o vazio sob as lanternas
Apesar do preço salgado, causado em parte pela altíssima carga tributária a um modelo importado do Japão, o conteúdo de série parece o de um automóvel da metade do preço: bolsas infláveis frontais, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica entre os eixos e assistência adicional em frenagem de emergência, fixações Isofix para cadeiras infantis, faróis de neblina, ar-condicionado com ajuste manual, sistema de áudio com CD/MP3 e entradas USB e auxiliar, interface Bluetooth, sensores de estacionamento na traseira, computador de bordo , banco traseiro reclinável e rodas de 17 pol em alumínio. Quem desejar mais itens de conforto deve levar a versão 4WD (veja o que muda). O motor de 2,5 litros traz ainda potência e torque adicionais: dos 145 cv e 19,1 m.kgf do 2,0-litros passa para 179 cv e 23,8 m.kgf.
O interior da versão pode decepcionar quem espera requinte: acabamento com plásticos rígidos em toda parte e tecido espartano nos bancos
O RAV4 surgiu em 1994 como veículo de recreação com tração nas quatro rodas (por isso a sigla, que significa Recreational Active Vehicle, four wheel drive), ou seja, um jipe compacto para o lazer e as aventuras longe do asfalto. Com o passar do tempo, a adesão de mais e mais famílias a esse tipo de carro levou a Toyota a ampliar suas dimensões, oferecer versões com tração só dianteira e adotar hábitos mais urbanos. Do modelo inicial ao mais novo, passou-se de 4,12 para 4,57 metros de comprimento, de 1,69 para 1,84 m de largura e de 2,41 para 2,66 m de distância entre eixos — e as diferenças seriam ainda mais expressivas se fosse considerada a antiga versão de três portas, mais curta, que deixou de existir.
O novo desenho impressiona muito bem de frente, com um conjunto de faróis e grade tipicamente japonês e bem integrado à família Toyota (como o Auris e de certo modo o novo Corolla europeu, que deverá ser transposto para o Brasil), e de lado, com linhas fluidas e esportivas, mas divide opiniões de traseira. A impressão é que a fábrica não sabia o que fazer depois de remover dali o estepe, que pela primeira vez no RAV4 vem guardado no compartimento de bagagem, e acabou deixando a tampa um tanto vazia, com enorme vão abaixo das lanternas horizontais.
No interior espaçoso e de bancos confortáveis, acabamento e conteúdo não são
compatíveis com o alto preço; o porta-malas agora tem a tampa aberta para cima
O interior da versão de entrada pode decepcionar quem espera requinte: também o acabamento é de carro da metade do preço, com plásticos rígidos em toda parte (mas sempre corretos em recortes, encaixes e aspereza) e um tecido espartano preto no revestimento dos bancos. O que resta de refinamento são a seção do painel em plástico que simula couro e os apliques em tom bronze ou que imitam fibra de carbono.
Simplicidade à parte, o motorista encontra um ótimo banco, amplo e com apoios laterais pronunciados, embora pudesse ter mais apoio lombar, e um volante de boa pega com comandos de áudio, telefone e computador de bordo. À frente estão um quadro de instrumentos essencial e comandos de fácil operação. No alto do painel, um relógio digital com o jeito dos anos 90.
O RAV4 mostra bons detalhes, como ajuste elétrico do facho dos faróis (que têm refletor elipsoidal para o facho baixo), retrovisores externos convexos e enormes com rebatimento elétrico, estepe com pneu integral e roda de alumínio, luz traseira de neblina (enfim integrada, sem parecer adaptação de última hora), sistema de áudio com boa qualidade sonora e conexões USB e auxiliar, vários espaços para objetos no console, quatro alças de teto, espelhos iluminados nos para-sóis, porta-garrafas nas portas traseiras, alerta para atar cinto, ajuste do intervalo do limpador de para-brisa e vidros traseiros que descem por inteiro.
Instrumentos e sistema de áudio seguem a linha espartana, mas agora ele tem interface
Bluetooth; bons detalhes são estepe de alumínio, ajuste de faróis e soleira protegida
Ao entrar e sair nota-se uma ótima solução: a moldura inferior da carroceria vem nas próprias portas e encobre toda a soleira metálica, de modo que a mantém limpa e seca — nada de sujar a barra da calça, como acontece em vários utilitários. De quebra, o revestimento plástico protege a porta de danos à pintura no caso de raspar em calçadas altas. Contudo, algumas falhas merecem correção: não há faixa degradê no para-brisa nem regulagem de iluminação do painel; como esta diminui ao acender luzes externas, quem viaja de faróis acesos acaba sem enxergar o mostrador do rádio.
Comparado à mesma versão que avaliamos em 2012, o novo carro revela alguma simplificação: perdeu controlador de velocidade, ajuste automático do ar-condicionado em duas zonas (agora é manual), temporizador do controle elétrico dos vidros, função um-toque para subir o vidro do motorista (ficou só para descer), luzes de cortesia no assoalho, tomada de 12 volts no porta-objetos do console, segundo porta-luvas em cima, fechadura do porta-luvas inferior e porta-objetos no piso. Em contrapartida ganhou computador de bordo, sensores de estacionamento na traseira, interface Bluetooth, cobertura divisória no compartimento de bagagem (de enrolar) e maçanetas cromadas, mais fáceis de ver à noite.
As grandes dimensões fazem desse Toyota um carro muito espaçoso, com destaque para a altura útil interna, suficiente até para os ocupantes mais altos, e o excelente vão para pernas de quem viaja atrás, mesmo tendo sido descartada a regulagem longitudinal desse banco (permanece a de inclinação do encosto). Contudo, o espaço para três adultos não é ideal e falta conforto para quem se senta no centro, embora disponha de encosto de cabeça e cinto de três pontos.
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