Enquanto Logan e Sandero passam a ser feitos na Argentina, a
marca planeja um programa de renovação de produtos nacionais
Renault Argentina anunciou investir US$ 100 milhões para adaptar a velha fábrica de Santa Isabel — de onde saiu o primeiro Jeep argentino, em 1955 — à produção de Logan, Sandero e Sandero Stepway ano próximo. Justificativa na Argentina, alívio na balança de pagamentos com o Brasil, de onde hoje os importa, e facilidades para o governo liberar dólares para trazer produtos de outros países, complementando a linha de modelos.
A divisão industrial para os produtos Renault entrega os extremos à Argentina — Fluence, Clio e Kangoo — e o meio, Logan, Sandero e Duster, no Brasil. Demandada, a Renault Brasil esclareceu, a transferência se dá pela razão das trocas comerciais entre os países do Mercosul, pela mudança no perfil exportador da operação argentina.
Aparentemente a decisão não se resume a ato de bom convívio com o governo argentino, ora apertando os parafusos sobre a indústria automobilística do vizinho país para defender a balança comercial, mas tem espectro muito maior: é um dos passos de estruturação ao projeto apresentado em 2014 por Carlos Ghosn, presidente mundial, em âmbito internacional, padronizando produtos a fim de tornar a Renault líder de vendas na América do Sul.
Para a fábrica brasileira, recém-ampliada, há quatro produtos para lá previstos, de acordo com o plano plurianual:
1) Veículo barato, do segmento A, carro de entrada. No caso, versão do Redi-Go da Datsun (na foto em versão conceitual), nova marca para produtos baratos Nissan. Motor de três cilindros, já produzido no Brasil por esta associada;
2) Projeto capaz de desdobrar-se em versões como utilitário esporte, veículos multiuso (a Espace, já lançada na Europa), sedã quatro-portas e hatch. Previsão 2017;
3) Linha de crossovers, cruza de utilitário esporte com andadura de sedã, existente sobre carros pequenos, médios e grandes;
4) Picapes para 0,5 e 1 tonelada de capacidade de carga. O primeiro, pronto, sobre plataforma Duster, tração dianteira, é o Oroch (ao lado), mostrado conceitualmente no Salão do Automóvel de São Paulo e com lançamento nos próximos meses. O outro, conhecido internamente como Raptur, é visão Renault sobre a estrutura mecânica — motor diesel, tração nas quatro rodas — do mal vendido picape Nissan Frontier.
Fonte autorizada da Renault instiga o raciocínio: se o Raptur, com este ou outro nome, vier a ser feito, possivelmente será na Argentina, com mais vocação para picapes — lá fazem Toyota Hilux, Ford Ranger e VW Amarok —, e auxiliará gerar saldo para trocas com os novos Renaults feitos no Brasil.
A decisão da transferência muda a filial brasileira de patamar institucional, agora em segundo nível ao fazer os veículos Dacia, sua segunda marca para produtos mais baratos. São Logan, Sandero e Duster, tratados de Dacia em muitos mercados, mas no Brasil chamados Renault. Com sua transferência para a Argentina, na operação local — exceto pelo Oroch a ser lançado e o Duster, até minguar, como programado pelo Plano Produto — todos os demais serão Renaults.
Na prática acabará o período de dacialização no Brasil.
De Tomaso renasce ou acaba
Prestigiosa marca de veículos esportivos criada em 1959 pelo argento-italiano Alejandro De Tomaso (1928-2003), reúne ofertas para a compra de seu acervo — nome, projetos, restos industriais. Marca diferenciada, atrevida — chegou a ter acordo operacional com a Ford construindo-lhe o Pantera, na foto —, minguou com o passamento do criador, foi assumida por Gian Mario Rossignolo, ex-executivo da Fiat com miríade de projetos, incluindo o sedã Deauville, projeto Pininfarina.
Trapalhada financeira, não deu certo — e não acabou em pizza, mas em prisão. Dois leilões foram realizados para vender os ativos, com ofertas inferiores ao pretendido, e a Justiça abriu prazo para receber e analisar propostas. Uma, chinesa, da Ideal Team Venture Ltd., no valor de 510 mil euros, foi retirada e substituída por coragem menor, 300 mil euros. Uma sociedade suíço-luxemburguesa, a Gennii Capita, ofertou 400 mil euros. A Justiça italiana pediu 10 dias para decidir.
No Brasil de Mensalão e Petrolão, entre os bilhões de Paulinhos, Duques, Vaccaris, Baruscos e associados na quadrilha, tais quantias são café pequeno. O negócio, uma costura entre justiça, credores, sindicato dos metalúrgicos e a municipalidade de Turim, Itália, busca a retomada das atividades na cidade.
Roda a Roda
Mais um – BMW iniciou montar seu terceiro modelo na fábrica de Araquari, SC. É o Série 1, hatch de cinco portas, três versões, todas com motor 2,0-litros, turbo, gerando 186 cv — na versão M 125i, 211 cv.
Os outros – Na instalação industrial, atualmente grande linha de montagem, faz a junção de peças importadas dos modelos Serie 3 e X1. Até o final do ano colocará em produção o Mini com motor tricilíndrico de 1,5 litro.
Ajuda – O Série 1 enquadra-se nos mecanismos de vendas da BMW. Num deles, o Sign & Go, entrada de 40%, pagamentos em 24 meses e, ao final do financiamento, quitação com 50% do valor inicial, ou utilização dos pagamentos como parte de um BMW novo. Até o final do mês.
Luxo – Toyota quer ampliar presença de sua marca superior, a Lexus. Importa o utilitário esporte NX 200T em versões de entrada, R$ 216.300, e F-Sport, a R$ 236.900. Supõe vender 100 unidades/mês — hoje seus sedãs vendem 20 ao mês. Rede mínima: apenas dois concessionários, em São Paulo.
E? – Motor 2,0-litros, turbo, injeção direta, 238 cv, o Lexus é um Toyota mais bem construído, equipado, luxuoso, com sedãs concorrentes de Mercedes. O NX 200T mira o líder Range Rover Evoque.
Negócio – Audi faz esforço promocional até dia 31. Ofertas com desconto, 60% de entrada e restante em 18 vezes sem juros, com IPVA 2015 grátis. A3 sedã a R$ 89.990 e outros modelos. A fim? Corra. Com dólar atrevido e governo sem norte, conta aumentará rapidamente. Raciocínio vale a todos os importados.
Nissan – Substituto do March à vista, o Sway (foto), apresentado no recém-findo Salão de Genebra. Sinaliza conceitos de massas, volumes e soluções estéticas. A Nissan tem impresso no país o incômodo rótulo de marca com os produtos mais fugazes do mercado.
Enfim – Peugeot acertou providências e processos para lançar o 2008, crossover baseado no bom 208: apresentação em abril, vendas em maio. Boa notícia. Queda de vendas e enxugamento interno tirou a marca do noticiário, e o 2008 pode reiniciar sua exposição à mídia e promover vendas.
Olho – Se é o olho do dono que engorda o rebanho, a Porsche resolveu cuidar pessoalmente de seus negócios no Brasil. Primeiro passo, fez joint-venture com o representante local, a Stuttgart Sportcar, instalando uma certa Porsche Brasil para representar, importar, distribuir, assistir a marca.
Antes – Coluna informou há 18 meses. Fonte dizia, marca entendera, a grande margem de lucro do importador elevava preços, reduzindo o mercado, e por isto viria. Não explicou, mas para fabricante mais vale muitas vendas que revendedor lucrando muito por preços elevados.
Dúvida – Resta saber se preços baixarão para aumentar o número de unidades vendidas, ou se a marca resolveu participar dos grandes lucros. Matthias Brück, ex-presidente da Porsche Latin America, dirigirá o negócio.
Formal – Porsche informou, presença é para acompanhar de perto o mercado e garantir crescimento e futuro da marca no Brasil.
Ocasião – Mercedes e seu Banco promovem vendas dos caminhões Accelo, a partir de R$ 114.900 para versão inicial 835/31. Financiamento pelo BNDES Finame MPME para médias e pequenas empresas. Modelos 2014.
DAF – Recém-chegada, marca holandesa controlada pela estadunidense Paccar opera o país e lançou esforço de vendas. Além dos 80% financiados pelo BNDES, a marca parcela a entrada, sem juros, em 12 meses.
Razões – Em tempo de instabilidade econômica, vendas caíram por razões de fato e por receio quanto ao futuro. Projeções do mercado de caminhões são de 40% de contração na comercialização. No segmento dos pesados, 70%.
Simpatia – Citroën desenvolveu campanha para localizar o mais antigo de seus C3, comemorando 12 anos de mercado. Encontrou unidade 00087 com único dono, o paulistano Marccelo Oristianio. Perdeu a oportunidade de trocá-lo por modelo 0km e guardar antigo, preservando a história da marca no Brasil. Deu-lhe acerto geral e vendeu ao cliente fiel C3 novo a preço especialíssimo.
Ecologia – Axalta, produtora de tintas, e Volkswagen comemoram um milhão de veículos pintados com tecnologia sustentável pelo sistema Eco-concept. Na prática reduz-se o número de camadas na pintura do carro 0km.
Mercado – A democratização dos itens de conforto, como ar-condicionado, direção assistida e conjunto elétrico, é perceptível pelos anúncios de veículos usados. Índice do portal Webmotors exibe-os como mais da metade dos anunciados. Acessórios dão o padrão do mercado. Falta penaliza o valor de revenda.
Maquiagem – Rede de franquias sulina Make-Up amplia negócios inaugurando loja em Criciúma, SC. Atendimento personalizado, boas instalações, equipamentos de ponta para serviços padronizados de pintura, lanternagem, micropintura, martelinho de ouro e estética automotiva.
Luz – Felipe Nasr, brasiliense, 22, 31°. brasileiro a estrear na Fórmula 1, marcou o chão no GP da Austrália, abrindo a temporada 2015: chegou em 5°. Façanha inédita no país de três campeões mundiais, e com automóvel e equipe não competitivos. É uma luz de esperança nestes tempos do país de cabeça baixa.
Livro – Fernando Campos, jornalista especializado em automóveis, lançou livro Esportes a motor em Goiás, cobrindo automóveis e motos até os anos 80, em especial o pós-Autódromo de Goiânia, um dos melhores do mundo. Patrocínio da Construtora Artec, autora da boa reforma e atualização do circuito, apoio da Agetop, agência estadual gestora do circuito.
Encontro – Colecionadores de Dodge em Brasília se animaram a aglutinar aficionados da marca, e farão I Mopar Centro Oeste, 10 a 12 de abril, no histórico Brasília Palace Hotel. Mopar — môpar, como pronunciam — é a marca de acessórios da Chrysler, agora de todas as controladas pela FCA. Boa organização, apoios e patrocínios. Participar com carro da marca? moparclubebsb@gmail.com ou (61) 3371-0601.
Gente – Olivier Murguet, presidente da Renault Brasil, mimo. Matriz aguardou seu aniversário para promoção importante. VP Senior e Presidente do Conselho da Região Américas e lugar no Comitê de Direção Renault e encurta caminho a diálogos superiores. Contato direto com Jerôme Stoll, antecessor e reposicionador da Renault Brasil, atual Diretor de Competitividade da marca e VP de Vendas e Marketing. / Eduardo Buchaim, engenheiro mecânico, retorno. Diretor de vendas de produtos comerciais na Dana, de autopeças.
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A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars