Mais leve, o Hardtop foi a base para o Corvette Z06, que combinava motor mais potente
(385 cv, depois elevados a 405), suspensão recalibrada e silenciadores de titânio
Nessa nova versão lançada em 2001 o V8 350 (em versão chamada de LS6) produzia 385 cv, sempre combinado ao câmbio manual de seis marchas. Seu escapamento trazia silenciadores de titânio, mais leves, e os pneus abriam mão da mobilidade estendida; a suspensão tinha calibração própria e havia dutos para arrefecer os freios. Essa passava a ser a única opção do Hardtop, que não havia encontrado a aceitação prevista pela GM. Um ano depois seu motor sofria modificações que elevavam a potência a 405 cv — a mesma do exótico ZR-1 do passado — e vinham novas rodas.
Um comparativo do Z06 com BMW M3, Nissan 350Z e Porsche 911 Targa na Road & Track apontou o equilíbrio do Chevrolet: “É a melhor compra de desempenho em carros esporte modernos. É difícil argumentar com 405 cv, 0-96 km/h em 4,5 segundos e uma máxima de 275 km/h por pouco mais de US$ 50 mil. E mais, depois de anos de evolução e um acerto de chassi bem executado, este último Corvette oferece ainda altos níveis de refinamento. Mas ao interior do Z06 ainda falta o aspecto de alta qualidade de seus competidores mais caros”.
Aos 50 anos de produção, o Corvette aparecia em duas edições especiais em 2003. A primeira trazia opção entre cupê e conversível, cor vinho com interior bege e amortecedores de carga variável. A outra, derivada do Z06, vinha com pintura especial em azul, como no C5-R da 24 Horas de Le Mans, e capô de fibra de carbono — o primeiro instalado de fábrica nos EUA. A esperada reformulação do esportivo, porém, ficava para o Salão de Detroit em janeiro de 2004.
O revestimento em dois tons era um dos detalhes ousados do Z06; em 2003 a GM fazia
duas edições comemorativas dos 50 anos, uma delas (em azul) derivada dessa versão
C6: o céu é o limite
O sexto Corvette, ou C6, mantinha a identidade de estilo do modelo anterior. Estava mais curto e estreito, sem redução de espaço interno, e seu Cx 0,28 era o melhor da história do carro. A maior novidade no desenho era a frente com faróis convencionais (quatro unidades sob lentes únicas com lâmpadas de xenônio) em vez de escamoteáveis, que o acompanhavam desde o Sting Ray de 1963. As formas estavam mais angulosas, com os para-lamas em claro destaque sugerindo músculos, e as habituais quatro lanternas traseiras vinham circulares e não mais ovaladas.
O novo motor do Z06, com a clássica cilindrada de 427 pol³ ou 7,0 litros, era o mais potente da história da GM até então: 512 cv
Por dentro, a proposta de “duplo cockpit” fazia com que o passageiro tivesse à frente uma simulação do painel do motorista, como em Vettes do passado. Entre os recursos de conveniência havia acesso ao interior e partida por botão sem uso de chave, mostrador projetado no para-brisa (head-up display), sistema de navegação por DVD, rádio por satélite XM e sistema de assistência OnStar.
A fórmula do V8 de grande cilindrada com comando de válvulas no bloco foi mantida, mas ele passava para 6,0 litros, alcançando 405 cv e 55,3 m.kgf, valores próximos aos do Z06 anterior. O chassi de aço com elementos de alumínio e magnésio reprisava os elementos principais do C5, mas ganhava em rigidez. As novas suspensões, com o mesmo conceito de braços sobrepostos e mola elíptica transversal, ofereciam a opção básica, a esportiva Z51 e a Magnetic Selective Ride Control (controle de rodagem seletivo magnético, um ajuste constante da carga dos amortecedores por fluido com propriedades magnéticas, com dois programas de uso). Os pneus 245/40-18 à frente e 285/35-19 na traseira vinham em qualquer caso.
Mesmo sem os faróis escamoteáveis, era fácil reconhecer o C6 como um Corvette;
o motor V8 passava a 6,0 litros e 405 cv e o conversível era renovado pouco depois
O C6 encarou o Porsche 911 Carrera da série 997 na Car and Driver, que deu ao Corvette a vitória por um ponto. Seus pontos fortes foram “desempenho que deixa a maioria dos carros esporte para trás, conforto e relação custo-benefício surpreendentes”; como item negativo, “abriríamos mão de um pouco de conforto para mais sensações da estrada e um ronco de motor mais encorpado”. O Chevrolet acelerou mais rápido em todas as medições e mostrou maior aceleração lateral, mas perdeu em frenagem.
Um ano depois a Chevrolet surpreendia com a versão Z06 no mesmo palco, o Salão de Detroit. O novo motor LS7 V8 tinha cilindrada de 427 pol³ ou 7,0 litros, mas — ao contrário do 427 anterior, de bloco grande — mantinha o bloco pequeno, o maior desse tipo já produzido pela GM. Era também o mais potente carro de série da história da corporação até então: fornecia 512 cv e 67 m.kgf para um peso de 1.420 kg, ou seja, 2,8 kg/cv de relação peso-potência. O resultado era 0-96 km/h em menos de quatro segundos, quarto de milha em 12 s e máxima de 305 km/h.
O LS7 usava tecnologias de competição como virabrequim e pistões forjados, bielas e válvulas de admissão de titânio e lubrificação por cárter seco. Os silenciadores de escapamento bimodais contavam com uma válvula acionada a vácuo, para manter baixo o ruído em uso com pouca aceleração e reduzir a contrapressão em alta. A estrutura da carroceria era de alumínio, com compostos de plástico e fibra de carbono colados a ela, e havia um novo subchassi de magnésio. O aspecto intimidante incluía defletores exclusivos, para-lamas traseiros mais largos e teto com painéis fixos para maior rigidez.
Outra cilindrada histórica, 427 pol³ ou 7,0 litros, ressurgia no Z06; com técnicas de
competição, o V8 fornecia 512 cv e levava o cupê de 0 a 96 em menos de 4 segundos
A Motor Trend comparou o Z06 com o Ford GT de motor central e o Dodge Viper SRT-10. O Corvette só perdeu para o GT em aceleração, como ao fazer de 0 a 96 km/h em 3,8 segundos, ante 3,4 s do Ford e 4 s do Viper, mas obteve o melhor tempo de volta no circuito de teste e se equivaleu ao Dodge em espaços de frenagem e aceleração lateral. Tudo isso custando apenas US$ 68,7 mil, contra US$ 87,7 mil do Viper e US$ 166,2 mil do GT.
“O veredito? A competição Chevy-versus-Dodge foi acirrada, mas o Vette superou o Viper na maioria dos testes objetivos a um custo menor e com menor consumo de combustível. Seu berro de 7.000 rpm e a sensação visceral de controle levaram nossos ‘subjetivômetros’ à faixa vermelha, de modo que o grande troféu vai para a Chevy. A América pode dormir tranquila, sabendo que nosso orgulho nacional é bem defendido contra os alemães 911, os ingleses [Aston Martin] V8 Vantages, e qualquer coisa que o Japão possa mandar para cá”.
Na linha 2008 o motor básico de 6,0 cedia lugar ao LS3 de 6,2 litros, que aumentava a potência para 430 cv e o torque para 59,2 m.kgf ou, no caso de uso de escapamento mais livre, 436 cv e 60,6 m.kgf. Novas rodas e evoluções nos câmbios manual e automático acompanhavam a novidade.
Dos materiais leves na construção ao escapamento com dois níveis de ruído, o
Z06 era um Corvette especial, mas a Chevrolet planejava algo ainda mais potente
O Z06 brilhou, mas a Chevrolet ainda não estava satisfeita. Havia uma sigla histórica — ZR-1 — que merecia uma reedição, o que foi feito na linha 2009 do Corvette. O novo ZR1, agora grafado sem o hífen, não recorria a um motor especial como seu antepassado: o 6,2-litros do modelo básico recebeu compressor Eaton do tipo Roots e, agora denominado LS9, desenvolvia 638 cv e 83,5 m.kgf, valores competitivos com supercarros como Ferrari 599 GTB Fiorano, Lamborghini Murciélago LP640 e Mercedes-Benz SLR McLaren, além do Viper SRT-10, e acima do Porsche 911 Turbo. Era o primeiro Corvette de rua a superar 200 milhas por hora (322 km/h). O céu parecia ser o limite para o C6!
Sofisticado, o ZR1 vinha com suspensão com controle magnético dos amortecedores, rodas de 19 e 20 pol (frente e traseira) com pneus 285/30 e 335/25 na ordem, freios com discos de carbono-cerâmica e itens de fibra de carbono — capô, para-lamas e defletor dianteiros, teto, soleiras. Os bancos podiam ser os do Z06, mais leves, ou os opcionais com ajuste elétrico e revestimento em couro em quatro opções de cor.
Na Road & Track, o ZR1 enfrentou em 2012 o Ferrari 458 Italia e o McLaren MP4-12C — e não se saiu mal. Venceu em aceleração lateral, slalom, frenagem, motor, câmbio e espaço para bagagem: “É o novo campeão de velocidade no slalom em nosso sumário de testes (77,9 mph, 125,4 km/h), e sua colossal aceleração lateral de 1,08 g fica atrás apenas do Dodge Viper ACR de geração anterior”. Apesar de sua grande vantagem em preço — US$ 125,2 mil contra US$ 340 mil do Ferrari e US$ 267,5 mil do McLaren —, ficou em segundo lugar, atrás do 458.
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Para ler
The Complete Book of Corvette: Every Model Since 1953 – por Mike Mueller, editora Motorbooks. Lançado em 2012, traz a história do esportivo, modelos de conceito, carros-madrinha, edições especiais e os pacotes de alto desempenho para rua e pista. Licenciado pela GM, traria fotos exclusivas dos bastidores da empresa em algumas das 368 páginas.
Corvette Sixty Years – por Randy Leffingwell, Motorbooks. As 256 páginas do livro, também de 2012, mostram informações e fotos raras dos arquivos da GM, propagandas, a história em competições e o perfil de pessoas como Bill Mitchell e Zora Arkus-Duntov.
Corvette 50th Anniversary – por Consumer Guide, editora Publications International. Embora limitado ao período de 1953 a 2003, o livro tem 416 páginas e inclui modelos conceituais e de corrida, além da descrição detalhada de cada ano-modelo.
Corvette from the Inside: The Development History – por Dave McLellan, editora Bentley Publishers. O engenheiro chefe do Corvette entre 1975 e 1992 conta o desenvolvimento do carro entre a terceira e a quarta geração, usando esboços próprios, materiais de arquivo da GM e, claro, muitos conhecimentos. São 288 páginas no livro de 2002.
Corvette: America’s Sports Car Yesterday, Today, Tomorrow – por Gerald Burton, editora Universe. Um grande livro de 336 páginas, publicado em 2008, é mais um a anunciar conteúdos exclusivos dos arquivos da GM. Aborda modelos de produção e de conceito.
The Ultimate Encyclopedia of the Corvette – por Peter Henshaw, editora Chartwell Books. Uma obra de 2011 com 448 páginas de muita história sobre o grande carro esporte.
Corvette Racing: The Complete Competition History from Sebring to Le Mans – por David Kimble, Motorbooks. De provas de longa duração a subidas de montanha, passando pela categoria Trans-Am, a notável carreira do Corvette em competições é tratada na obra de 256 páginas, publicada em 2013.
Corvette Sting Ray 1963-1967 (Gold Portfolio) – por R. M. Clarke , editora Brooklands Books. Uma das gerações mais charmosas do modelo mereceu em 1990 esta coletânea de matérias de revistas da época, testes e comparativos. Inclui versões com motores 327, 396 e 427 em 172 páginas em preto e branco.
Zora Arkus-Duntov : The Legend Behind Corvette – por Jerry Burton, Bentley Publishers. Conta como o engenheiro belga ajudou a salvar um carro que não teve sucesso imediato, enfrentando a oposição dentro da GM. Tem 428 páginas; publicado em 2002.
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