Com 740 cv no V12 de 6,3 litros e menor peso que o do Fiorano, o F12 Berlinetta cumpria o 0-100 km/h em 3,1 segundos: o mais rápido dos Ferraris
F12: fluido e ainda mais rápido
Mais potência, menos peso, melhor aerodinâmica: que fórmula poderia ser mais acertada para o supercarro que vinha substituir uma lenda como o Ferrari 599 GTB Fiorano? O F12 Berlinetta, estrela da marca de Maranello no Salão de Genebra em março de 2012, estreava com esses grandes atributos e um estilo que, sem inovar de fato, conseguia associar perfil moderno a elementos clássicos do fabricante, caso das lanternas traseiras circulares.
No desenho, feito mais uma vez em parceria com Pininfarina, chamava atenção a fluidez de linhas como as das laterais, com uma reentrância em forma de onda entre os para-lamas dianteiros e as portas, e as da traseira, onde as formas que emolduravam as lanternas se uniam na seção central do para-choque. Menor distância entre eixos e motor, painel e bancos mais baixos buscavam maior agilidade e centro de gravidade mais próximo do solo. Chassi e carroceria com 12 tipos diferentes de ligas, alguns deles inéditos na construção de automóveis, contribuíam para a redução de peso de 70 kg em comparação ao GTB.
Avanços eram notados também em aerodinâmica, não apenas pelo Cx mais baixo (0,299 ante 0,34 do antecessor), mas também pela sustentação negativa 76% maior (123 kg a 200 km/h). O fluxo de ar foi aprimorado por duas soluções: a “ponte aerodinâmica”, que direcionava ar dos sulcos do capô para as laterais e reduzia sua parcela que passava por cima do carro, e o arrefecimento ativo de freios, com dutos que se abriam no para-choque para ventilar os discos apenas quando eles acusassem alta temperatura.
No interior do F12, atraente como de hábito, muitos comandos no volante e configuração dos instrumentos; a transmissão era de dupla embreagem
Embora a pressão por menores consumo e emissão de gás carbônico (CO2) viesse levando várias marcas de esportivos a usar turbocompressor e reduzir a cilindrada — como a própria Ferrari faria mais tarde com o California e o 488 GTB —, o F12 Berlinetta recebia um motor V12 de aspiração natural ainda maior que o do Fiorano, com 6.262 cm³. Com injeção direta, a potência de 740 cv (70 cv a mais que no 599 GTO e 40 acima do Lamborghini Aventador) era atingida a 8.500 rpm, com limite de giros a 8.700, e representava 118 cv/l. O torque máximo de 70,4 m.kgf aparecia a 6.000 rpm, mas 80% estavam disponíveis já a 2.500.
No F12 TDF, alusão à Tour de France, o V12 chegava a 780 cv e o peso era 110 kg mais baixo: acelerava de 0 a 100 em 2,9 segundos e superava 340 km/h
Não existia transmissão manual para o F12, que adotava uma caixa automatizada F1 de dupla embreagem com sete marchas. O Ferrari de rua mais rápido já visto arrancava de 0 a 100 km/h em 3,1 segundos, passava pelos 200 em 8,5 s e superava 340 km/h. O tempo de volta de 1 min 23 s em Fiorano confirmava sua supremacia na marca. Para controlar esse ímpeto o F12 usava freios de carbono-cerâmica, ajuste magneto-reológico dos amortecedores, diferencial E-Diff com bloqueio eletrônico e assistente de largada F1-Trac. Consumo e emissão de CO2 foram reduzidos em 30% em relação aos do GTB.
A Car and Driver definiu que “o botão Launch (largada) entre os bancos deveria se chamar ‘quebra-pescoço’. Dizem que bons cavalos não gostam de maus cavaleiros, mas o F12 foi programado para tolerar os inexperientes. Cada grau de volante leva a uma resposta previsível do carro. Ganha-se confiança rápido e o chassi faz tudo melhor do que se espera. Em Fiorano, sentimo-nos confortáveis o bastante para um power-slide [derrapagem de traseira pela aplicação de potência] ao fim da primeira volta. É um supercarro usável e confortável, que entretém e delicia a todas as velocidades”.
Restrito a 10 exemplares, o F60 America foi a versão conversível do F12; o interior destacava o espaço do piloto com acabamento em vermelho
A Evo confrontou o F12 ao Aston Martin V12 Vanquish e ao Aventador: “De repente, controlar seus 740 cv torna-se um verdadeiro desafio. Ele é tão rápido e brutal em respostas ao menor movimento que se fica constantemente ocupado. A aceleração é tão forte e incansável que você mal processa o tempo até a próxima curva. O F12 é certamente mais supercarro que GT, de modo que o Aventador é seu rival mais próximo. O Ferrari é mais usável todos os dias, mas o Lamborghini vence em drama visual. Não há dúvida de que o F12 está em outro nível tecnológico”.
O F12 conversível aparecia em 2014 em edição limitada de 10 unidades com o nome F60 America, alusão aos 60 anos de atividades da marca nos EUA. Com arcos de proteção revestidos em couro atrás dos bancos, extensões de fibra de carbono para esses elementos, frente e traseira modificadas e pintura ao estilo dos carros da equipe North American Racing Team (NART), ele destacava em vermelho o posto do piloto e mantinha o motor original.
A primeira evolução técnica do F12, em outubro de 2015, foi denominada TDF em referência à corrida de longa duração Tour de France, vencida várias vezes pela marca nos anos 50 e 60. O V12 ganhava 40 cv, passando a 780 cv a 8.500 rpm (125 cv/l) e 71,9 m.kgf a 6.750 rpm. Com redução de peso em 110 kg (para 1.520 kg) pelo amplo uso de fibra de carbono na carroceria e em itens internos, o TDF acelerava de 0 a 100 km/h em 2,9 segundos e deixava para trás os 200 em 7,9 s (sobre a máxima, a fábrica mantinha a informação de “mais de 340 km/h”), além de cumprir a volta em Fiorano em 1 min 21 s. Com produção limitada a 799 unidades, ele trazia alterações também na transmissão F1 (relações mais curtas e trocas até 40% mais rápidas) e no chassi.
Potência elevada a 780 cv, menor peso e chassi revisto deixavam a versão TDF do F12 ainda melhor para acelerar e devorar curvas
O eixo traseiro ganhava um sistema de esterçamento chamado de Entre-Eixos Curto Virtual, que direcionava as rodas com o objetivo de assegurar a agilidade em curvas de um carro de pequeno entre-eixos, sem abrir mão da estabilidade direcional trazida pela dimensão mais longa. Os pneus vinha mais largos e os freios ganhavam pinças similares às do La Ferrari. Mudanças na aerodinâmica ampliavam em 87% a sustentação negativa, que alcançava 230 kg a 200 km/h. O interior trazia revestimentos em tecido e camurça sintética nos bancos e carbono nos painéis de porta e no quadro de instrumentos.
“Pura pornografia automobilística”, definiu a Evo. “O TDF é o mais desejável carro à venda hoje. Tem extrema aderência no eixo dianteiro, resposta instantânea e parece dar pouca margem de erro. A aderência adicional e muito maior controle de rolagem criam uma sensação muito diferente do F12 normal. Ele não quer brincar com grandes derrapagens de traseira: demanda respeito. E que motor! O torque profundo, insistente e o modo como ele sopra perto do limitador a 8.900 rpm não têm similar. Alguns dirão que os turbos são tão bons hoje, mas estão mentindo: o F12 TDF é prova de que para empolgação, respostas e sons, nada supera um grande motor aspirado. Nada”.
Um grande motor aspirado à frente, largos pneus empurrando o solo atrás e um cavalo empinado no volante: que definição de prazer em dirigir pode ser mais exata que um Ferrari V12 grã-turismo?
Mais Carros do Passado
Para ler
The Road Ferraris: The Complete Story – por Anthony Pritchard, editora Haynes. Do 166 Inter de 1948 ao 612 Scaglietti, os Ferraris de rua por mais de 60 anos estão reunidos no livro de 432 páginas publicado em 2013. Inclui carros-conceito e explanação das diferenças entre versões de rua e de competição dos modelos.
Ferrari – All the Cars: a Complete Guide from 1947 to the Present – por Leonardo Acerbi, editora Giorgio Nada. De tamanho semelhante (454 páginas), a obra de 2015 também se propõe uma “enciclopédia” da marca do cavalinho, mas abrange carros da Fórmula 1 e de outras categorias das pistas.
Standard Catalog of Ferrari – 1947-2003 – por Mike Covelllo, editora Krause. Mais antigo (2003), o livro de 224 páginas traz na capa um 550 Maranello. Dentro, informações de todos os modelos de rua desde a fundação da marca, com dados técnicos e volumes de produção.
Ferrari by Pininfarina: Technology and Beauty – por Etienne Cornil, editora Giorgio Nada. Outro V12 deste artigo — um Superamerica — ganhou a capa da obra de 536 páginas, dedicada aos esportivos que o estúdio italiano desenhou para a Ferrari. Foram 50 anos de parceria de 1952 ao ano de publicação.
Ferrari: The Legendary Models – por Saverio Villa, editora White Star. Mais compacto (212 páginas) e recente (2015), traz dois volumes: um com a história da marca, outro com 40 de seus modelos mais emblemáticos, como 250 GTO (1962), 275 GTB (1964), 330 P3 (1966), F355 Berlinetta (1994) e P540 Superfast Aperta (2009), um dos carros desta matéria.
Ficha técnica
575M Maranello (2002) | 599 GTO (2010) | F12 TDF (2016) | |
Motor | |||
Posição e cilindros | longitudinal, 12 em V | ||
Comando e válvulas por cilindro | duplo nos cabeçotes, 4 | ||
Diâmetro e curso | 89 x 77 mm | 92 x 75,2 mm | 94 x 75,2 mm |
Cilindrada | 5.748 cm³ | 5.999 cm³ | 6.262 cm³ |
Taxa de compressão | 11:1 | 11,9:1 | 13,5:1 |
Potência máxima | 515 cv a 7.250 rpm | 670 cv a 8.250 rpm | 780 cv a 8.500 rpm |
Torque máximo | 60 m.kgf a 5.250 rpm | 63,2 m.kgf a 6.500 rpm | 71,9 m.kgf a 6.250 rpm |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | injeção direta | |
* Medidos pelo método bruto | |||
Transmissão | |||
Tipo de caixa e marchas | manual ou automatizada, 6 | automatizada, 6 | automatizada de dupla embreagem, 7 |
Tração | traseira | ||
Freios | |||
Dianteiros | a disco ventilado | ||
Traseiros | a disco ventilado | ||
Antitravamento (ABS) | sim | ||
Suspensão | |||
Dianteira | independente, braços sobrepostos | ||
Traseira | independente, braços sobrepostos | ind., multibraço | |
Rodas | |||
Pneus dianteiros | 255/40 R 18 | 285/30 R 20 | 275/35 R 20 |
Pneus traseiros | 295/35 R 18 | 315/35 R 20 | 315/35 R 20 |
Dimensões | |||
Comprimento | 4,55 m | 4,71 m | 4,66 m |
Entre-eixos | 2,50 m | 2,75 m | 2,72 m |
Peso | 1.730 kg | 1.605 kg | 1.520 kg |
Desempenho | |||
Velocidade máxima | 325 km/h | 335 km/h | +340 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 4,2 s* | 3,35 s | 2,9 s |
Dados do fabricante; *com transmissão automatizada |