Depois do Twin Cam, a Ford ampliava a série de Escorts esportivos com o RS 1600 (no alto), com motor Cosworth de 16 válvulas e 120 cv, e o Mexico, um conjunto acessível
A britânica Motor testou o Twin Cam, que acelerou de 0 a 96 km/h em 8,7 segundos, e opinou: “Desempenho e aderência tremendos para um sedã de quatro lugares, no nível de um carro esporte, com aceleração fantástica para um carro pequeno. Em curvas ele comporta-se de modo soberbo, com um mínimo de rolagem”. Em velocidade máxima o Escort deixava para trás o MGB GT, o Mini Cooper S e o Sunbeam Rapier, além do próprio Lotus Cortina.
Outras opções esportivas, RS 1600 e Mexico, eram apresentadas em 1969. O RS (Rallye Sport, sigla que a Ford não mais abandonaria) tinha a primeira aplicação do motor Cosworth BDA, que moveria os carros de rali da marca por 16 anos. Com 1,6 litro e quatro válvulas por cilindro, uma primazia na marca, a unidade Cosworth — nome que resultava da fusão dos fundadores Mike Costin e Keith Duckworth — obtinha 120 cv, marca respeitável até hoje para a cilindrada, e 14,5 m.kgf. Poucos chegaram às ruas: a maioria foi direto às competições.
Para a revista inglesa Autoexpress o RS 1600 foi o segundo Escort mais interessante na história, atrás apenas do RS Cosworth dos anos 90: “Ele pode parecer um modesto modelo de entrada, mas o visual simples esconde uma briosa mecânica de competição. O motor é infeliz em baixa rotação, mas estique suas pernas e o RS 1600 se torna vivo. A direção é direta, e o câmbio, uma delícia. Pise mais e você revela o equilíbrio do chassi. O ronco do escapamento domina a experiência”.
No RS 2000 (em destaque) era adotado motor de 2,0 litros e 100 cv, mais fácil de manter; embaixo, o mesmo RS e anúncios do Twin Cam e do RS 1600 com alusão a competições
Já o Mexico, homenagem à vitória do carro no rali Londres-México (leia no quadro da página anterior), mantinha o 1,6 de comando no bloco com 86 cv e 12,7 m.kgf, mas oferecia estilo esportivo e suspensão mais firme a preço acessível. Para a Motor Sport, também britânica, era “um admirável carro de diversão: rápido, altamente controlável, confiável, econômico e com um comando de câmbio muito agradável, mas ruidoso. Uma fórmula muito efetiva”. Ambos eram produzidos pela divisão Advanced Vehicle Operations (operações avançadas de veículos, AVO) em Essex, na Inglaterra.
O RS 1600 tinha a primeira aplicação do motor Cosworth BDA; com quatro válvulas por cilindro, uma primazia na marca, obtinha 120 cv
O primeiro milhão de Escorts era atingido em outubro de 1971 — o segundo milhão, em junho de 1974, seria um marco nunca antes alcançado por um modelo Ford fora dos Estados Unidos. A série esportiva ganhava mais um representante em junho de 1973: o RS 2000, com motor Pinto (amplamente usado pela Ford na Europa e exportado aos EUA para equipar o modelo homônimo) de 2,0 litros, comando único no cabeçote, 100 cv e 14,9 m.kgf. Embora menos potente que o RS 1600, era mais barato, fácil de manter e também competitivo em ralis.
Sobre o novo RS, a Motor Sport comentou que “com controle ainda melhor e maior capacidade de frenagem em uso pesado, não é apenas um Mexico de motor maior: é um novo carro em seu direito, com todos os aspectos divertidos do Mexico, mas fornecidos de um modo mais agradável. O RS 2000 está na melhor tradição dos Fords esportivos, e a AVO sem dúvida receberá aqui a mesma resposta entusiástica que obteve na Alemanha. Ele é ideal para aqueles que abrem mão de um verdadeiro carro esporte de dois lugares, mas desejam bom comportamento, respostas instantâneas e uma imagem esportiva de seu transporte familiar”.
Além dos países europeus citados, a primeira geração foi produzida em Cork (Irlanda), Homebush (Austrália) e Seaview (Nova Zelândia) e montada em Nazaré (Israel) e Taipei (Taiwan) com conjuntos importados.
A segunda geração aparecia em 1975 com novo desenho e o requinte do acabamento Ghia (na foto interna), sem grandes alterações mecânicas; o 1600 Sport (em verde) vinha em 1977
Mais conforto sem perder a verve
Após uma carreira bem sucedida, o primeiro Escort dava lugar à segunda geração em fevereiro de 1975. Aprimorado em espaço interno, ergonomia, visibilidade e comportamento dinâmico, o carro trazia mantinha um desenho simples. Estava mais curto (3,98 m) e baixo (1,41 m), com largura e entre-eixos inalterados, assim como os principais motores e os conceitos mecânicos; o peso subia para 880 kg. Para conter custos a perua conservava a antiga carroceria, reestilizada na frente e no interior para se assemelhar ao novo sedã.
Já em maio o Escort assumia a posição de carro mais vendido da Europa. A versão de luxo Ghia, com motor de 1,6 litro e 84 cv, era um dos primeiros usos pela Ford do nome do estúdio de estilo italiano adquirido por ela em 1970. Mas o modelo não seria um legítimo sucessor do primeiro sem versões de alto desempenho. Dessa vez nenhuma delas era produzida na fábrica da AVO, fechada como efeito da crise do petróleo de 1973, que reduziu o mercado para carros potentes.
Da unidade alemã de Saarlouis começava a sair ainda em 1975 o RS 1800, com motor BD de 1,8 litro e quatro válvulas por cilindro com 115 cv e 16,6 m.kgf, que a Ford homologaria para competir no Grupo 2. Duas opções esportivas menos potentes eram lançadas em janeiro de 1976. O RS Mexico vinha com motor 1,6 de comando no cabeçote (95 cv e 12,7 m.kgf) e bancos dianteiros do tipo concha da marca alemã Recaro, que se tornaria um longevo fornecedor. Por sua vez, o RS 2000 passava a 110 cv e 16,5 m.kgf no 2,0-litros de duas válvulas por cilindro. Sua frente recebia uma moldura de poliuretano com aspecto diferenciado e faróis duplos, enquanto as rodas de alumínio eram mais largas (6 x 13 pol) com pneus 175/70.
O novo RS 2000 tinha frente com moldura plástica e quatro faróis e motor de 110 cv; com o RS Mexico (à esquerda) e o RS 1800, ele formava a linha esportiva da geração
A Motor Sport testou as três novas versões RS, que aceleraram de 0 a 96 km/h em 8,6 segundos (RS 1800), 9,8 s (2000) e 11,1 s (Mexico): “O RS 1800 é mais ‘alegre’ de traseira que o 2000, mas os três Escorts RS têm mais subesterço e rodar mais macio que antes. As vantagens do 1800 são cristalizadas em pura velocidade. Ele pode ser visto como um especial de competição, enquanto o Mexico e o 2000 têm lugar válido no mercado ao lado do Triumph Dolomite Sprint, mas recomendaríamos uma volta no Audi 80 GT”.
Na compatriota Car o RS 2000 enfrentou tanto o 80 quanto o BMW 316i: “Você paga caro por um carro extremamente básico em termos de engenharia quando opta por um RS, mas ele é bem feito e equipado, com estabilidade soberba e aderência acima da média. O visual é de garoto corredor, mas se o garoto quiser realmente competir tem aqui um bom ponto de partida (o RS 1800 é ainda melhor para esse fim). Tais qualidades fazem do RS 2000 um genuíno carro de diversão”.
Decênios depois a também inglesa Evo colocaria o RS 2000 em sua seleção dos 100 maiores driver’s cars, ou carros para a satisfação do motorista: “Escorts de tração traseira são fáceis de entender e muito confiáveis, com suspensão simples e direção sublime. Adicione um ótimo comando de câmbio e baixo peso, e você tem um carro da velha escola ideal para entretenimento”.
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Os especiais
Embora o Escort RS 2000 da segunda geração fosse um carro bastante rápido para sua classe, a Ford oferecia acessórios para realçar sua esportividade e elevar seu desempenho. Chamada de Series X, a linha incluía para-lamas alargados, defletores, rodas mais largas, freios e suspensão especiais e preparação para o motor. O carro das fotos, leiloado pela Bonhams em 2014 por £ 52.900 (cerca de R$ 258 mil em valores atuais), tem para-lamas como os de competição no Grupo 1, dois carburadores para elevar a potência a 150 cv, rodas de 7,5 x 13 pol, amortecedores Bilstein, freios especiais e diferencial autobloqueante (fotos: Bonhams).
Antes que a Ford lançasse o próprio Escort RS Turbo de terceira geração, a inglesa Janspeed preparava em 1982 seu XR3 Turbo, que passava dos originais 96 para 122 cv e tornava-se capaz de 0-96 km/h em 8,6 segundos. Outra proposta era a da Specialised Engines, também britânica, que modificava o XR3i de 1986 em diante para 137 cv por meio de aumento de cilindrada para 1,9 litro, cabeçote revisto e novo comando de válvulas. O resultado era aceleração mais rápida que a do RS Turbo de fábrica, como atestou a revista Fast Ford.
Que tal um Escort de terceira geração com tração traseira? Para atender a pilotos privados de rali adeptos ao extinto segundo modelo, a inglesa Gartrac aplicou ao Mk III tantos componentes mecânicos do Mk II quanto foi possível. O resultado foi um Escort com motor longitudinal de 2,2 litros, cabeçote Cosworth de duplo comando e eixo traseiro rígido, que se mostrou bastante competitivo nas provas.
Com as lições aprendidas no modelo, a Gartrac logo passou a oferecer uma conversão ainda mais ousada para uso em rua, o G6 2.8i (acima), com o motor V6 de 2,8 litros com injeção do cupê Capri. Com 160 cv, esse Escort acelerava de 0 a 96 km/h em 6,8 segundos e tinha o visual esportivo assegurado por para-lamas alargados em alumínio, defletor dianteiro e rodas de 15 pol com pneus 195/50. Havia opção por um turbo para alcançar 215 cv. Dos cerca de 30 carros, três receberam a tração integral do Sierra — uma espécie de precursor do RS Cosworth de 1992 — e alguns eram conversíveis.
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