Com o sistema híbrido Hy-Kers o La Ferrari acrescentava 163 cv do motor elétrico aos 800 do V12, para acelerar de 0 a 100 em menos de 3 segundos
La Ferrari: a eletricidade como aliada
O quinto supercarro dessa linhagem era revelado em março de 2013 no Salão de Genebra. Chamava-se simplesmente La Ferrari, ou “a Ferrari”, como que resumindo o que a própria marca expressa em tecnologia, desempenho e carisma.
Era o primeiro modelo da marca de Maranello a adotar o sistema Hy-Kers (em inglês, sistema híbrido de recuperação de energia cinética), inspirado no Kers da Fórmula 1, que fazia o motor elétrico auxiliar a unidade a gasolina. O V12 aspirado de 6,3 litros desenvolvia a potência de 800 cv a 9.000 rpm (nada menos que 128 cv/l) e o torque de 71,4 m.kgf a 6.750 rpm e podia atingir 9.250 rpm. Somado o motor elétrico de 163 cv, eram 963 cv e 92 m.kgf. Outra unidade elétrica acionava acessórios.
O supercarro impressionava pela aceleração: de 0 a 100 km/h em menos de 3 segundos, passando pelos 200 em 7 s e chegando a 300 em 15 s para atingir mais de 350 km/h. Completava a volta no circuito de Fiorano em 1 min 20 s, ou seja, 5 s mais rápido que o Enzo e em 3 s a menos que o F12 Berlinetta. A adoção do auxílio elétrico representava 20% de ganho em aceleração e 50% de redução da emissão de gás carbônico (CO2) em modo híbrido.
Pininfarina ficava de fora do desenho do novo supercarro, que tinha portas abertas para frente e para cima; atrás, duas lanternas quebravam a tradição
A bateria de íons de lítio de 2,2 kWh, refrigerada a líquido e fixada ao chassi em posição central para contribuir com a distribuição de massas entre os eixos, recebia energia tanto nas desacelerações quanto nas acelerações, caso o V12 produzisse maior torque que o adequado para tracionar as rodas. Não foi prevista rodagem apenas com eletricidade. Todo o sistema híbrido pesava 146 kg, cerca de metade daquele usado pelo Porsche 918 Spyder — os alemães, mais uma vez, ofereciam um dos maiores concorrentes. Ainda assim, ele era 220 kg mais pesado que o Enzo.
O chassi usava quatro tipos de fibra de carbono. Na carroceria ou mesmo abaixo dela, os anexos aerodinâmicos assumiam diversas posições para produzir sustentação negativa apenas quando necessária, sem prejudicar todo o tempo a aerodinâmica. Seu desenho dispensava o estúdio Pininfarina pela primeira vez em décadas, sendo elaborado pelo centro de estilo da marca sob comando de Flavio Manzoni. Certamente mais belo que o Enzo, o La Ferrari abandonava as quatro lanternas traseiras circulares em favor de apenas duas.
Para obter um centro de gravidade 35 mm mais baixo que no antecessor, uma das medidas foi rebaixar ao extremo os bancos, colando sua almofada diretamente ao assoalho do chassi. Para evitar complicação no acesso a Ferrari cortou as soleiras e as fixou às portas, deixando um aspecto incomum com elas abertas. No interior, o banco do motorista era fixo e adequado a suas medidas, enquanto pedais e volante (achatado em cima e embaixo) podiam ser ajustados. Uma tela de 12,3 pol servia como quadro de instrumentos.
O La Ferrari usava painel digital, volante multifunção e bancos rebaixados ao máximo; no console, comandos de transmissão e do controle de largada
O La Ferrari tinha transmissão automatizada de dupla embreagem com sete marchas, suspensões (agora com conceito multibraço na traseira) com carga ajustável de amortecedores e freios Brembo com discos de carbono-cerâmica. Eles não eram usados para obter até 0,4 g (40% da aceleração da gravidade) de desaceleração, condição em que o sistema regenerativo de energia bastava. Em frenagens, os anexos aerodinâmicos assumiam nova posição para contribuir na dissipação de velocidade.
Com 963 cv combinados, o La Ferrari acelerava de 0 a 200 km/h em 7 segundos; o auxílio elétrico reduzia a emissão de gás carbônico (CO2) à metade em modo híbrido
A versão conversível Aperta (aberta) do supercarro era apresentada três anos depois, no Salão de Paris em 2016. Além do belo trabalho de estilo, a marca destacava a rigidez torcional e a aerodinâmica tão próximas da versão fechada quanto possível. A Ferrari fabricou 500 exemplares do modelo inicial, até janeiro de 2016, e 210 do Aperta até agosto de 2018.
No teste da revista Car and Driver, o La Ferrari obteve “a aceleração mais rápida até 240 km/h de qualquer carro de produção que já testamos: 1,5 segundo mais rápido que o Bugatti Veyron. Colocado contra o Porsche 918 Spyder, o La Ferrari percorre o quarto de milha nos mesmos 9,8 s. O que torna o desempenho ainda mais notável é que o La Ferrari tem tração traseira. O controle de largada é fácil de acionar e obtém corridas consistentes, mas a tração nas quatro rodas do 918 oferece uma vantagem inicial”.
Depois dos 500 carros fechados a Ferrari fez mais 210 unidades do conversível Aperta; a bateria era recarregada até ao acelerar se sobrasse torque
Na opinião da Evo, “o hardware pode ser completamente moderno, mas o coração do La Ferrari continua sendo o V12. A mágica real é a maneira como o motor elétrico faz sua contribuição sem nunca fazer sentir sua presença. Ele preenche o torque nas faixas inferior e média, com um sólido empuxo, sem barulho ou sensação de múltiplas fontes de energia. Aderência e tração são extremamente bem avaliadas e o controle de estabilidade é preciso, permitindo a você deslizar a traseira suavemente antes que ele aplique uma mão invisível. Ele parece totalmente intuitivo. O La Ferrari consegue seu desempenho heroico com uma experiência de dirigir acessível, explorável e totalmente envolvente”.
A Top Gear considerou-o melhor que o 918 Spyder e o McLaren P1: “A todo vapor, o La Ferrari acelera feroz, é estranhamente estável e freia como um empurrão nos ombros. E essa coisa uiva, um soprano V12 com um tipo de resposta de acelerador que parece bruxaria. A potência elétrica do Kers não parece antinatural. Eles tornaram os 963 cv utilizáveis, previsíveis. Ele se comporta melhor do que qualquer outro rival, tem uma destreza surpreendente, é flexível e comunicativo sem esforço”.
Trinta e cinco anos depois do surgimento do 288 GTO, esse grupo de elite dos supercarros da Ferrari continua a encantar multidões. A julgar pelo carisma que envolve a marca de Maranello, os puros-sangues vermelhos serão para sempre desejados.
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Ficha técnica
288 GTO (1984) | F40 (1988) | F50 (1996) | |
Motor | |||
Posição e cilindros | central-traseiro, longitudinal, 8 em V | central-traseiro, long., 12 em V | |
Comando e válvulas por cilindro | duplo nos cabeçotes, 4 | duplo nos cabeçotes, 4 | duplo nos cabeçotes, 5 |
Cilindrada | 2.855 cm³ | 2.936 cm³ | 4.698 cm³ |
Potência máxima | 400 cv a 7.000 rpm | 478 cv a 7.000 rpm | 520 cv a 8.500 rpm |
Torque máximo | 50,6 m.kgf a 3.800 rpm | 58,8 m.kgf a 4.500 rpm | 47,1 m.kgf a 6.500 rpm |
Alimentação | injeção multiponto sequencial, 2 turbos, 2 resfriadores de ar | injeção mult. sequencial | |
Transmissão | |||
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 | manual, 5 | manual, 6 |
Tração | traseira | traseira | traseira |
Freios | |||
Dianteiros | a disco ventilado | a disco ventilado | a disco ventilado |
Traseiros | a disco ventilado | a disco ventilado | a disco ventilado |
Antitravamento (ABS) | não | não | sim |
Suspensão | |||
Dianteira | independente, braços sobrepostos | ||
Traseira | independente, braços sobrepostos | ||
Rodas | |||
Pneus dianteiros | 225/55 R 16 | 235/45 R 17 | 245/35 R 18 |
Pneus traseiros | 265/50 R 16 | 335/35 R 17 | 335/30 R 18 |
Dimensões | |||
Comprimento | 4,29 m | 4,43 m | 4,48 m |
Entre-eixos | 2,45 m | 2,45 m | 2,58 m |
Peso | 1.160 kg | 1.100 kg | 1.330 kg |
Desempenho | |||
Velocidade máxima | 306 km/h | 324 km/h | 325 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 5 s (aprox.) | 3,8 s | 3,9 s |
Dados do fabricante; ND = não disponível |
Enzo (2003) | La Ferrari (2014) | |
Motor | ||
Posição e cilindros | central-traseiro, longitudinal, 12 em V | central-traseiro, longitudinal, 12 em V |
Comando e válvulas por cilindro | duplo nos cabeçotes, 4 | duplo nos cabeçotes, 4 |
Cilindrada | 5.988 cm³ | 6.262 cm³ |
Potência máxima | 660 cv a 7.800 rpm | 800 cv a 9.000 rpm |
Torque máximo | 67 m.kgf a 5.500 rpm | 71,4 m.kgf a 6.750 rpm |
Potência combinada | NA | 963 cv |
Torque combinado | NA | 91,8 m.kgf |
Alimentação | injeção mult. sequencial | injeção direta |
Transmissão | ||
Tipo de caixa e marchas | manual automatizado, 6 | automatizado de dupla embreagem, 7 |
Tração | traseira | traseira |
Freios | ||
Dianteiros | a disco de carbono-cerâmica | a disco de carbono-cerâmica |
Traseiros | a disco de carbono-cerâmica | a disco de carbono-cerâmica |
Antitravamento (ABS) | sim | sim |
Suspensão | ||
Dianteira | ind., braços sobrepostos | ind., braços sobrepostos |
Traseira | ind., braços sobrepostos | ind., multibraço |
Rodas | ||
Pneus dianteiros | 245/35 R 19 | 265/30 R 19 |
Pneus traseiros | 345/35 R 19 | 345/30 R 20 |
Dimensões | ||
Comprimento | 4,70 m | 4,70 m |
Entre-eixos | 2,65 m | 2,65 m |
Peso | 1.365 kg | 1.585 kg |
Desempenho | ||
Velocidade máxima | 350 km/h | 350 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 3,65 s | 2,4 s |
Dados do fabricante; NA = não aplicável; ND = não disponível |