Para-choques de plástico fizeram bem ao Passat 1985, que mostrava vitalidade no GTS Pointer
O novo GTS Pointer agradou em cheio por reunir conforto, agilidade e confiabilidade num só carro. As rodas esportivas de alumínio de 14 pol usavam pneus 185/60 e os bancos dianteiros eram ótimos Recaro com regulagem de altura e contorno envolvente. Havia itens como vidros verdes, para-brisa com faixa degradê, encostos de cabeça para quatro passageiros, apoio de braço no banco traseiro e teto solar opcional (ainda sem forro interno, o que o tornava muito inconveniente no clima tropical).
Anunciado como “um meio-termo entre o Gol GT e o Santana”, o GTS Pointer 1.8 satisfez à Motor 3: “A impressão é que ele fica entre o antigo TS 1.6 e o Gol GT em ‘alegria’, mas que se demonstra bem mais macio operacionalmente do que qualquer dos dois. No global, um carro claramente mais desejável que o GTS 1.6 e muito interessante, apesar de sua idade de projeto. Mostra mais uma vez que novidade não é necessariamente melhor que correção. O GTS, com o comando bravo do Gol e câmbio de cinco marchas, poderia se tornar a reedição do velho e pranteado TS”.
A linha Passat ganhava em janeiro de 1985 novos retoques na aparência: para-choques envolventes em plástico injetado (que só chegariam aos demais Volkswagens “a água” na linha 1987), lanternas traseiras frisadas e um esperado novo painel, bem mais elegante, inspirado no do Santana. O Pointer trazia termômetro de óleo do motor no console, posição sempre crítica para leitura, e o aparelho de rádio enfim ganhava posição central, em vez da incômoda colocação à direita. O volante passava a ser o famoso “quatro-bolas”, em alusão aos botões circulares de buzina, surgido na Alemanha com o Golf, com quatro raios e apenas 36 cm de diâmetro. Seria procurado pelos que personalizavam carros da marca por anos a fio.
O painel era remodelado; o esportivo tinha bancos Recaro e volante de “quatro bolas”
Outro ganho bem vindo, ainda que demorado, era o câmbio de cinco marchas. A padronização da linha eliminava a carroceria de quatro portas. O Pointer ganhava nesse ano um novo concorrente, o Monza S/R, com motor 1,8-litro de 106 cv, que em 1987 daria lugar ao 2,0-litros de 110 cv. Havia também o Ford Escort XR3, com um 1,6 de 86 cv, e no ano seguinte o Fiat Uno 1.5R, de mesma potência do XR3 (todos os dados são com álcool, que predominava à época).
Padronizado ao Gol GT, o GTS Pointer chegava a 99 cv e andava muito bem: testes da época indicaram 0 a 100 km/h em 10 segundos
Na Motor 3 as novidades do Pointer foram aprovadas com ressalvas: “O padrão de acabamento geral é muito bom. Investiram em um painel mais moderno e elegante, mas não corrigiram seu detalhe mais criticado, os mostradores do console. Por que não os incluíram no quadro de instrumentos?”. Apesar disso, “o GTS Pointer 1985 é o ótimo produto da evolução de um modelo lançado há quase 11 anos”.
Motores aperfeiçoados ganhavam as ruas para 1986. A nova série AP (Alta Performance), com versões 600 e 800 — 1,6 e 1,8-litro, na ordem —, trazia maiores eficiência e suavidade com bielas mais longas para melhor relação r/l e outras alterações. O LS Village usava o 1,6 com 85 cv (álcool), logo revistos para 90, enquanto a VW aproveitava para padronizar o GTS Pointer ao Gol GT em termos de comando de válvulas e carburação, levando a potência do 1,8-litro a 99 cv (diz-se que um pouco mais, pois havia tributação mais elevada acima desse valor). Com isso, andava muito bem: testes da época indicaram 0 a 100 km/h em 10 segundos e velocidade máxima de 180 km/h. No mesmo ano aparecia a versão conhecida como Iraque (leia no quadro abaixo).
O motor do LS Village 1986 era o novo AP-600; o volante do Pointer (direita) mudava em 1988
A Motor 3 confrontou o revitalizado GTS Pointer ao Gol GT e ao Monza S/R, todos de 1,8 litro, e registrou com o Passat as melhores acelerações (seguindo ao Gol nas retomadas e ao Monza em velocidade máxima), a mais rápida frenagem e o menor consumo. Além disso, no autódromo José Carlos Pace (Interlagos), o GTS foi “o mais equilibrado dos três nos diversos tipos de curva. Como deu para ver, em esportividade (desempenho geral) o Passat destacou-se dos demais. Nos itens mais sociais e ‘passeio’, o Monza assumiu o primeiro posto. E o Gol, que segue de perto o Passat em desempenho esportivo, perde longe dos dois como carro de família — o que define bem sua faixa típica de comprador”.
As vendas do Passat, muito boas até o princípio da década de 1980, começaram a sofrer os efeitos da concorrência com carros mais modernos, como Monza e Escort. A própria Volkswagen estava dando mais espaço e atenção para as linhas Gol e Santana, deixando o veterano modelo defasado em equipamentos e tímido em divulgação. O último Pointer, de 1988, ainda não oferecia controles elétricos de vidros e travas e seu estilo estava envelhecido diante do reestilizado Gol GTS. Até mesmo seu volante de “quatro bolas” dera lugar a um conservador, o mesmo do Santana.
Em 2 de dezembro daquele ano, após 897.829 unidades produzidas para o mercado interno e exportação, seus muitos admiradores ficavam sem a opção de um Passat zero-quilômetro. O primeiro Volkswagen “a água” continuava evoluindo na Alemanha (de 1994 em diante as novas gerações seriam importadas, convivendo por mais de 10 anos com o Santana), mas no Brasil passava à história aquele que muitos afirmam, com convicção, ter sido o melhor carro médio de seu tempo fabricado no País.
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Em outros países
Nos Estados Unidos o Passat foi lançado no mesmo ano do Brasil, em 1974, mas sob o nome Dasher. Importado da Alemanha, chamava a atenção pelos para-choques enormes, exigidos pela legislação do país, e oferecia três ou cinco portas e a perua de cinco, todos com motor de 1,5 litro e 75 cv (o 1,6 de 78 cv vinha dois anos depois). Para-choques de plástico e faróis retangulares apareciam em 1978; a versão a diesel, no ano seguinte.
O modelo brasileiro foi exportado para diversos mercados. Já na década de 1970 a VW firmou contratos com países africanos, como a Argélia, que recebia uma versão de cinco portas não oferecida aqui (nosso quatro-portas não tinha a ampla tampa traseira). Alguns desses carros, porém, acabariam chegando ao mercado interno em 1980 e 1981. Mais tarde, em meados dos anos 80, foi estabelecido com o Iraque um acordo entre a Volkswagen, o governo brasileiro e o daquele país. Os iraquianos pagavam em petróleo, que a VW vendia à Petrobras. Muitos deles ainda podiam ser vistos nas ruas durante a invasão norte-americana ao Iraque, em 2003, quando imagens do país foram difundidas mundo afora pela televisão.
Em meados de 1986 a Petrobrás solicitou que a VW interrompesse por um período o envio dos carros, pois estava com excedente de petróleo. O que já havia sido produzido foi então enviado para as concessionárias como um retorno do Passat LSE, que ganharia o apelido de Iraque. Facilmente reconhecíveis, tinham quatro portas e existiam em tons nada discretos de vermelho e azul, alguns com interior também vermelho. O motor era o MD 270, anterior ao AP-600 usado na época no mercado interno, com caixa de apenas quatro marchas. Por outro lado, o acabamento era melhor que o do vendido aqui e havia itens de conforto como ar-condicionado e carpetes espessos. Em uma época de falta de carros novos no mercado (os preços estavam congelados e a procura excedia em muito a demanda), teve seu êxito.
Ficha técnica
Passat TS (1976, gasolina) | Passat GTS (1983, álcool) | Passat GTS Pointer (1986, álcool) | |
Motor | |||
Posição e cilindros | longitudinal, 4 em linha | ||
Comando e válvulas por cilindro | no cabeçote, 2 | ||
Diâmetro e curso | 79,5 x 80 mm | 81 x 86,4 mm | |
Cilindrada | 1.588 cm³ | 1.781 cm³ | |
Taxa de compressão | 7,5:1 | 12:1 | |
Potência máxima | 80 cv a 5.600 rpm | 82 cv a 5.200 rpm | 99 cv a 5.600 rpm |
Torque máximo | 12,0 m.kgf a 3.000 rpm | 12,9 m.kgf a 2.600 rpm | 14,9 m.kgf a 3.600 rpm |
Alimentação | carburador de corpo duplo | ||
Transmissão | |||
Tipo de caixa e marchas | manual, 4 | manual, 5 | |
Tração | dianteira | ||
Freios | |||
Dianteiros | a disco | ||
Traseiros | a tambor | ||
Antitravamento (ABS) | não | ||
Suspensão | |||
Dianteira | independente, McPherson | ||
Traseira | eixo de torção | ||
Rodas | |||
Pneus | 175/70 R 13 | 185/60 R 14 | |
Dimensões | |||
Comprimento | 4,28 m | 4,29 m | 4,26 m |
Entre-eixos | 2,47 m | ||
Peso | 885 kg | 890 kg | 950 kg |
Desempenho | |||
Velocidade máxima | 160 km/h | 180 km/h | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 14,0 s | 15,0 s | 10,0 s |
ND = não disponível; dados de desempenho aproximados |