Iniciada em 1925, a linha Imperial notabilizou-se pelo requinte e o desempenho,
caso do L80 com motor de 5,1 litros e 112 cv; nas imagens, o Custom Eight
de 1932 (em cima) e modelos de 1925, 1929 e 1932 (da esquerda para a direita)
A empresa já era a quarta maior fábrica de carros do país em 1927 — um grande salto se considerado que, três anos antes, era apenas a 32ª. No ano seguinte o banco Dillon, Read & Co., que assumira a Dodge em 1925, tentava vendê-la a Chrysler, que não concordava com o preço: a transação envolvia apenas as instalações, não os produtos. Sem fechar o negócio, Walter lançava a marca DeSoto em agosto de 1928 no mesmo mercado da Dodge. O primeiro carro da nova divisão era o Six, com motor de seis cilindros e 55 cv.
Outra marca ganhava espaço no portfólio no mesmo ano: a Plymouth, que tinha como primeiro modelo o Four, com motor de quatro cilindros e 45 cv, e como novidade para a categoria coxins entre o chassi e a carroceria. Para ganhar a confiança do público, sua publicidade o chamava de Chrysler Plymouth e o anunciava como projetado e construído pela Chrysler. Ainda em 1928, Walter acabava comprando a Dodge sem desembolsar um centavo, mas emitindo US$ 175 milhões em ações para os antigos proprietários — e levando ainda a Graham, marca de caminhões adquirida pela Dodge três anos antes.
Aquele foi mesmo um grande ano para Walter Chrysler, que adquiria ainda a marca de caminhões Fargo e iniciava a construção do Edifício Chrysler em Nova York, com projeto do arquiteto William Van Allen em estilo art-deco e projeto estrutural da Ralph Squire & Sons. Completado em dois anos sem mortes ou ferimentos graves durante a obra, apesar dos 77 andares, o edifício de 319 metros de altura foi o prédio mais alto do mundo por um ano, quando acabou superado pelo Empire State, também em Nova York.
O Plymouth Q 1928 (em vinho) e o DeSoto Six 1930, novas marcas lançadas pela
Chrysler; nas fotos menores, a partir da esquerda, o edifício Chrysler em 1932, o
novo prédio de vendas e Walter ao volante do milionésimo Plymouth em 1934
Na mesma época, outro edifício disputava o título de mais alto do mundo — o Banco de Manhattan, também em Nova York. Walter queria que seu prédio fosse o mais elevado, e tanto ele quanto o banco tentavam permissão da prefeitura para construir mais andares. Chrysler conseguiu seu objetivo graças a uma coroa de aço inoxidável de 56 metros, construída secretamente dentro do prédio antes de ser levada ao topo, já no fim das obras. Com um ano tão movimentado, não foi surpresa que Chrysler tenha sido escolhido o Homem do Ano de 1928 pela revista Time.
O Chrysler Imperial CG tinha oito cilindros e, para mostrar a rigidez da carroceria, um elefante era colocado sobre seu teto diante do público
O empresário não parou por ali. Fundou o Instituto de Engenharia Chrysler e o Departamento de Idosos, pensando tanto no aprimoramento da engenharia quanto na carreira para funcionários mais velhos. Em 1931 lançava um carro para o topo do mercado, o Chrysler Imperial CG, com diversos estilos de carrocerias (em geral realizadas pela encarroçadora LeBaron) e motor de oito cilindros em linha, 6,3 litros e 135 cv, que permitia velocidade de cerca de 160 km/h.
Em uma chamativa campanha publicitária para mostrar a rigidez da carroceria do carro, um elefante era colocado sobre o teto diante do público. O Imperial chegou a ter sucesso em competições, como um 3º. lugar em Spa-Francorchamps, e participou da 24 Horas de Le Mans. Mas o lançamento mais comentado de Chrysler talvez tenha sido o Airflow, em 1934.
O Airflow (em cima e na foto de Walter junto de um modelo em escala) foi
inovador, mas fracassou em vendas; nas imagens de anúncios, o empresário
avalizando um Plymouth 1934 e o destaque às técnicas do Airflow
O desenvolvimento começou com o Trifon, projeto iniciado em 1927 com protótipo pronto cinco anos depois. Pioneiro no estilo de cabine avançada, tinha o motor 45 centímetros à frente do habitual para permitir que todos os ocupantes ficassem entre os eixos, com ganho em conforto — o rodar pelo balanceamento dinâmico, como chamava a empresa. O para-brisa único em curva era outra novidade do Trifon. Para manter o segredo do projeto, o protótipo foi até registrado no departamento de trânsito com a marca Trifon Special.
O resultado foi o Airflow, primeiro carro aerodinâmico de produção em série, para o qual foi construído o primeiro túnel de vento pertencente a uma empresa do setor. Com frente arredondada e faróis embutidos, dava opção de quatro diferentes entre-eixos e três motores de 122 a 150 cv. Vinha nas versões Eight Sedan, Eight Coupe, Imperial, Custom Imperial, Town Sedan e Sedan Limousine, este com o primeiro para-brisa em curva em um carro de série. Além da Chrysler, o Airflow podia vir pela marca DeSoto com motor de 100 cv.
A campanha publicitária também inovava, chegando a jogar o carro de um penhasco de 33 metros para mostrar a resistência da estrutura de gaiola à qual a carroceria era soldada — o carro amassou um pouco, mas continuou funcionando. O Airflow acabou tendo que ser redesenhado devido às baixas vendas como reação do público a um desenho tão radical, mas inspirou entre outros o Volvo PV36, o Peugeot 402 e o Toyota AA. O desenho da frente do carro também chegou a ser usado em um caminhão Dodge.
O DeSoto Airstream 1936 (esquerda), que respondia à fraca aceitação ao Airflow, e
o exclusivo Custom Imperial Town Car de alumínio feito para a filha de Walter
O fracasso comercial do Airflow fez com que alguns protótipos revolucionários da Chrysler acabassem não chegando ao mercado. Entre eles, os carros com motor de cinco cilindros radiais, propostos para um mercado atingido pela crise — foram testados dois exemplares, um com carroceria semelhante ao Airflow e outro com estilo mais convencional. Ambos tinham tração dianteira, algo incomum à época nos EUA.
Um dos últimos carros de sua administração foi o Airstream, que substituía o Six e aproveitava do Airflow apenas a semelhança no nome e o motor V8 opcional. O Airflow durou até 1937, um ano após Chrysler ter deixado a direção da companhia para Kaufman Thuma Keller (conhecido como K. T. Keller). Mesmo aposentado, Chrysler continuou inovador ao encomendar para sua filha Bernice Chrysler Garbisch um Imperial Town Car com carroceria especial feita de alumínio.
Em 1938, mesmo ano da morte de sua esposa Della Viola Forker, sofreu um derrame. Vinha a falecer em 18 de agosto de 1940, em sua casa, tendo sido enterrado no cemitério de Sleepy Hollow, em Nova York. O caixão foi transportado em um Airflow transformado em carro fúnebre pela encarroçadora Knightstown.
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